Mesmo sendo um exemplo de preservação nas bacias hidrográficas nas últimas duas décadas, o Brasil vê repentinamente o crescimento de um problema que se intensifica sem grande fiscalização ou impedimento, e que está provocando grande devastação florestal e dos mananciais. O garimpo ilegal em vários pontos, principalmente na Amazônia Legal.
Além da devastação de grandes áreas florestais, com derrubada de milhares de quilômetros quadrados de florestas e degradação dos leitos dos rios, com assoreamento e desvio de seus cursos naturais, hoje o que mais preocupa cientistas e ambientalistas é a contaminação por mercúrio e por outros produtos químicos, geralmente metais pesados.
Eles são utilizados no modo artesanal, para facilitar a separação do metal nobre e das pedras preciosas do cascalho, sem valor comercial.
Os produtos químicos, que não são mais usados em garimpos são descartados nos cursos d'água, contaminando espécies de peixes e répteis originários, que são a base da alimentação de povos ribeirinhos ou são a base da economia dessas populações. No caso, esses alimentos acabam na mesa das populações urbanas, mesmo distante das áreas contaminadas.
Os metais pesados são um problema insolúvel. Eles são cumulativos no organismo humano e não são eliminados. Provocam doenças irreversíveis e chegam a ser fatais. Dados recentes do Observatório da Mineração indicam que as maiores devastações estão em terras indígenas, como a dos Mundurucus e dos Ianomâmis.
Nas terras dos Mundurucus, o garimpo ilegal cresceu 2.000% em poucos anos. A população indígena de 145 aldeias é de 14 mil pessoas. Pesquisa médica indica que 100% da população apresenta níveis de mercúrio no corpo muito maiores que o permitido pela ciência. Nas terras dos ianomâmis o garimpo cresceu 600%. Dezenas de pistas pra pequenos aviões, foram descobertas. Os dados são do Observatório são corroborados pelo Greenpeace.
Engana-se quem acredita que o problema é localizado e distante. Peixes da região podem são comercializados em todas as capitais do país, incluindo na região Sul. Esses grandes rios e seus afluentes cortam todos os cinturões do agronegócio e da agropecuária brasileiros. Lava o solo mais rico e produtivo do segmento.
Outra vítima é a agricultura irrigada e a pecuária. Desde 2015, com o rompimento da barragem de Mariana, em Minas, agricultores que viviam da produção irrigada e das águas do rio Doce para dar de beber aos seus rebanhos, tiveram que abrir mão de 660 quilômetros consecutivos daquela água.
Muitos pecuaristas tiveram que abrir mão da atividade ou transferir seus rebanhos. Quem tinha produção agrícola familiar ou em escala perdeu tudo, incluindo as estruturas que foram corroídas pelo ácido dos rejeitos do minério. A poluição do rio Doce desagua no mar no estado do Espírito Santo, na região Sudeste.
Ainda não há estudos científicos que indicam quais os problemas causados na produção agrícola em escala do agronegócio brasileiro derivado da poluição dos cursos d’água e do solo usados para a irrigação e para a produção. Os acontecimentos do rio Doce acenderam um alerta no segmento. Pesquisadores se debruçam nas pesquisas. Afinal, o agronegócio é um dos tripés do Produto Interno Bruto (PIB).
Há menos de um ano, a Polícia Federal teve que queimar dezenas de balsas clandestinas que faziam garimpo ilegal no rio Tapajós, há mil quilômetros de distância de Alter do Chão, um dos paraísos naturais daquela região, base da economia turística local. As águas, vinda de mil quilômetro à jusante, ficaram negras do dia para a noite, assustando a população e as autoridades.
Não estamos falando de pequenas populações ou pequenas regiões localizadas. Estamos lidando com um problema que bate à porta da economia nacional.