Nada tem sido mais complexo do que a pecuária bovina de corte no ano de 2022. É marcado pelas questões de consumo interno (tantas vezes abordadas em nossos artigos); é evidente o bom e estável momento de exportações de carnes; de uma virada de ciclo que já oferta uma quantidade maior de fêmeas e que deve ficar ainda mais expressiva; os custos de produção foram mais pesados; escalas industriais que ficaram bem extensas e até a chuva que chegou antes.
Para variar, começo pelo final da argumentação. E vou falar sobre o mapa de chuvas no estado que moro, como exemplo, Mato Grosso do Sul. Em agosto a precipitação foi maior que a média; teve o maior volume desde 2017 em setembro; já em outubro, até o dia 23, havia superado outubro do ano passado que foi muito bom de chuva (a quantidade de água foi até motivo de embates acalorados com meus colegas no Canal do Boi). Enfim, quis concluir com esse exemplo estarmos em momento ótimo, chuva e sol, não só para a soja, mas também para as pastagens.
É claro, maior quantidade de qualquer tipo de alimento, pode significar maior oferta de animais terminados e isso pressionar os preços da arroba do gado pronto. Até foi um dos motivos da queda para arroba na última semana, mas, por outro lado, traz também uma provável produção com custos mais baixos também.
As escalas estiveram bastante expressivas e ainda se mantêm em ao menos dez dias, o que é tempo suficiente para exercer pressão e ter muito espaço para negociação. As escalas não reduzem rapidamente e o motivo é a aparente oferta que teve redução, mas não pode ser considerada baixa e também o consumo de carne bovina no mercado interno brasileiro. Até conta com alguma recuperação, mas nada impressionante.
A questão do varejo é importante para esclarecermos alguns pontos importantes, um deles, é o setor ter mantido preços “praticáveis” para o consumidor final durante o pico de preços e crise de poder de compra da população. Abriu mão de parte relevante de parte de suas margens. Nos últimos meses, está bem claro que o setor tem reposto as posições.
É razoável também considerar que, como já dissemos em alguns artigos anteriores nos meses de julho, agosto e setembro, estamos em um fechamento de ciclo, uma abertura de novo ciclo. E com a grande retenção de fêmeas dos últimos anos, está mais do que evidente que há uma disposição maior desta categoria para abates, o que mostra uma linha de tranquilidade ainda maior para o comprador.
Para a semana, o cenário deve seguir complicado, com pressões, mas provável resistência por parte do pecuarista. Entretanto, a oferta tem melhorado o que facilita bem o trabalho da indústria.