Apesar da perspectiva de melhora em população ocupada no mercado de trabalho nos próximos meses, a taxa de desemprego deve se manter alta no segundo semestre. Esse é o entendimento de Rodolpho Tobler, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), ao comentar a alta de 1,6 ponto, a quarta consecutiva, no Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) de junho a julho, para 89,2 pontos, anunciada hoje pela fundação.
Embora o índice, com a elevação, tenha voltado a patamar pré-pandemia – ao registrar a maior pontuação desde fevereiro de 2020 (92 pontos) –, o desempenho não reflete necessariamente projeção de recuo na taxa de desemprego, afirmou o economista.
Ao falar sobre o atual cenário do mercado de trabalho, o especialista disse que o IAEmp em alta é influenciado principalmente pelo ritmo maior na vacinação contra a covid-19. Esse aspecto impacta favoravelmente a economia de serviços – mais afetada pela pandemia, devido à necessidade de restrições de circulação social para prevenir contaminação pela doença.
Com a imunização mais ágil, em comparação com o observado no primeiro semestre, diminuem-se as restrições, e as atividades de serviços voltam gradativamente a mostrar cadência mais próxima à do cenário pré-pandemia, afirmou ele. Como os serviços são intensivos em emprego, essa melhora pode conduzir à abertura de vagas, com impacto positivo na população ocupada, explicou Tobler.
Essa retomada também influencia os chamados desalentados, lembrou o técnico, que são os desempregados que não estão em busca de emprego. "Esses vão voltar a procurar trabalho, quando visualizarem melhora em população ocupada e vão pressionar [para cima] a taxa de desemprego", analisou o economista. "Acredito que a taxa de desemprego continue elevada ao longo de 2021", ponderou ele, contudo.
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Na prática, as condições mais favoráveis para o crescimento de população ocupada nos próximos meses foram fator determinante para a melhora do IAEmp, acrescentou o especialista. Ele não descartou que o indicador continue a subir ao longo do segundo semestre, devido à expectativa de continuidade de vacinação mais ágil contra a covid-19, graças à maior disponibilidade de vacinas prevista para o período.
Mas Tobler fez uma ressalva. É fundamental acompanhar a evolução da pandemia e seu impacto na trajetória do indicador. O especialista comentou que, caso ocorra piora em indicadores de casos e de mortes causados pela doença, podem ocorrer novas restrições de circulação social, o que afetaria a economia de serviços.
Ele lembrou o avanço recente no país da variante delta do coronavírus, que é mais transmissível. "No caso da pandemia, ainda temos alguns fatores que tornam o cenário muito incerto", reconheceu Tobler, ressaltando que a manutenção de trajetória ascendente do IAEmp depende de continuidade do atual quadro sanitário mais favorável.