05/08/2021 às 15h00min - Atualizada em 05/08/2021 às 15h00min

Juros futuros disparam com Copom e riscos locais no radar

A linguagem mais agressiva do Comitê de Política Monetária (Copom) acerca do patamar terminal da taxa Selic para combater a inflação e o crescimento da percepção dos riscos fiscal e político locais contribuem com a elevação da tensão entre agentes de mercado nesta quinta-feira, implicando a incorporação de prêmio de risco ao longo de toda a curva a termo e na disparada das taxas futuras de juros de médio e longo prazo.

Perto de 14h30, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subia de 6,34% no ajuste anterior para 6,465%; a do DI para janeiro de 2023 avançava de 7,88% para 8,14%; a do contrato para janeiro de 2025 passava de 8,78% para 9,03% e a do DI para janeiro de 2027 tinha alta de 9,10% para 9,36%.

O Copom entregou alta de 1 ponto percentual da Selic na decisão de quarta-feira, conforme o esperado, e também sinalizou outro ajuste de mesma magnitude para a próxima reunião, em setembro. O comitê passou a considerar adequado que a taxa básica de juros fique acima do patamar neutro ao fim do ciclo de alta com o objetivo de lidar com a inflação ao consumidor persistente e, assim, conter o avanço das expectativas de inflação para 2022 — o que pressiona os juros de curto prazo a se dirigirem a uma precificação de juro básico de cerca de 8% ao fim deste ano.

Após a decisão, a TS Lombard elevou a sua projeção de Selic ao fim do ano de 6,5% para 7,5%, com o BC “incentivado” a continuar a antecipação das altas no curto prazo. Ainda assim, a consultoria mantém a “porta aberta” para taxas acima desse nível dada a imprevisibilidade das condições meteorológicas no resto do ano.

“Se as expectativas de inflação para 2022 continuarem a aumentar nas próximas semanas, pode haver aumento maior para 8% no final do ano”, diz o economista da consultoria, Wilson Ferrarezi, em um relatório a clientes. Santander e Citi foram outras instituições que também anunciaram revisões em suas projeções de Selic ao fim de 2021, de 7% para 7,5% e de 6,75% para 7,5%, reagindo a menções explícitas do Copom de que pretende colocar a taxa Selic acima do nível neutro no término do ciclo de aperto.

Não apenas as visões mais conservadoras para a política monetária, mas a deterioração das condições políticas e fiscais domésticas impõem um prêmio de risco mais elevado à curva de juros. Um operador da mesa de renda de um grande banco aponta que declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) alimentaram a tensão nos mercados em um momento de fragilidade política do governo, baixa popularidade do presidente e receios sobre a manutenção da âncora fiscal no teto de gastos.

Enquanto isso, investidores se mantêm atentos às questões fiscais, cujo quadro se deteriorou de maneira relevante nos últimos dias, avalia Patricia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos. “O cenário piorou rápido e a tendência é de que juros se mantenham em níveis maiores por mais tempo”, diz.

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