04/08/2021 às 18h00min - Atualizada em 04/08/2021 às 18h00min

Ibovespa vai às mínimas com incertezas na cena doméstica e externa

O Ibovespa opera em queda firme nesta quarta-feira, pressionado tanto por fatores locais como externos. No cenário local, os resultados do Bradesco e as incertezas fiscais e quanto ao ciclo de alta de juros são relatados por analistas como motivos de cautela. No exterior, os dados de criação de emprego no setor privado abaixo do esperado nos Estados Unidos bem como a disseminação rápida da variante delta da covid-19 ajudam a esfriar a demanda por risco hoje.

Perto das 16 horas, o Ibovespa operava em queda de 1,27%, aos 122.011 pontos, após ter caído mais de 2% nas mínimas do dia, aos 121.072 pontos.

O setor financeiro era destaque negativo, em reação aos resultados do Bradesco, que foram considerados mistos pelos participantes do mercado. As ações preferenciais do banco recuavam 3,83%, os papéis PN do Itaú caíam 2,21%, Banco do Brasil ON cedia 1,47% e Units do Santander recuavam 1,20%.

"Os bancos grandes estão sob um ataque concorrencial muito forte. Em diversas frentes de negócios, há empresas estruturando para atacar especificamente o segmento. Então hoje é um setor que sofre especificamente pelos resultados do Bradesco, mas não vemos muita atratividade no médio e longo prazo. Nunca houve uma concorrência tão forte e ela se acirra a cada dia que passa", afirma o gestor da Rio Verde Investimentos Eduardo Cavalheiro.

Segundo Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo, o setor financeiro deve ter um trimestre mais difícil do que o esperado, diminuindo a demanda pelos papéis, o que acaba pesando no índice nesta quarta-feira.

Adicionando pressão ao dia negativo na bolsa local, ele destaca que as ações da Petrobras também sofrem com um movimento de maior cautela dos investidores, diante da divulgação de seus resultados. "Os resultados corporativos não estão empolgando tanto como se esperava. Pode ser que o resultado da Petrobras reverta isso, mas, no primeiro momento, há um sinal de cautela na bolsa", diz.

Além disso, os profissionais apontam que o clima ruim no exterior também contribui para a cautela local. O relatório da Automatic Data Processing (ADP) mostrou que o setor privado americano criou 330 mil vagas de trabalho, pouco mais da metade da expectativa de alguns economistas.

Os riscos fiscais também seguem em evidência entre os investidores. O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar que o Bolsa Família será reajustado no mínimo para R$ 300, mas “o ideal” seria chegar a R$ 400.

Em entrevista à “Rádio 96 Natal FM”, do Rio Grande do Norte, o presidente também reforçou que a Petrobras terá um fundo de R$ 3 bilhões com objetivo de entregar um botijão de gás a cada dois meses a beneficiários do programa de transferência de renda.

A declaração contribuiu para que as ações da Petrobras ON renovassem mínimas diárias - perto das 16 horas, tinham baixa de 2,96%. Petrobras PN perdia 1,42%.

"A gente não sabia o quanto, mas imaginávamos que a questão das eleições seriam antecipadas já neste segundo semestre. A agenda política deve começar a dominar mais o noticiário do que a econômica e isso acaba deixando o mercado pairando no ar", afirmou o chefe de renda variável da Zahl Investimentos, Flávio de Oliveira.

As ações da Usiminas PNA lideram os ganhos do Ibovespa, em alta de 4,99%.

Por fim, a incerteza sobre o ciclo de alta de juros no país também retira parte do otimismo dos agentes financeiros. Segundo Cavalheiro, da Rio Verde Investimentos, tem sido difícil ter uma opinião clara sobre a trajetória dos ativos no curto prazo. "O xadrez está muito complexo. Seria natural voltar a olhar para as empresas domésticas, dada a perspectiva de retomada, mas isso depende em que patamar vai parar os juros", pontua.

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