27/12/2022 às 12h34min - Atualizada em 27/12/2022 às 12h34min

Retrospectiva 2022 e a total dependência chinesa por carne bovina brasileira

A pecuária em 2022 apresentou importantes mudanças, alterações na cadeia produtiva que trouxeram novos parâmetros para o mercado do boi. É possível afirmar neste último artigo do ano alguns elementos de grande importância e relativa especulação, mas que se tornaram muito maduros nos últimos anos, principalmente neste que se despede.

O fator do mercado, evidentemente, nosso foco de abordagem, trouxe a seguinte expressão: os mercados consumidores externos conquistados, principalmente os asiáticos, com destaque para China, são determinados por relações comerciais maduras e consumo estrangeiro de carne bovina brasileira consolidado.

As expressões “relações comerciais maduras” e “consumo estrangeiro de carne bovina brasileira consolidado” são fundamentais para entender como os agentes de mercado atuaram em 2022 e por qual motivo o mercado externo, dificilmente, será usado para especular e pressionar a arroba do boi gordo.

Há cenários e expressões que dizem muito sobre indivíduos, grupos e empresas. Quero dizer o seguinte: muitos afirmam que as relações comerciais “maduras” com a Ásia (essencialmente China) se por um lado trazem a garantia de escoamento de produção de carne bovina, injeta também uma boa dosagem de dependência da cadeia produtiva brasileira para com este grande comprador.

Está certo? Talvez...mas a chamada dependência tem dois lados...

Então, entro na segunda expressão utilizada neste artigo de retrospectiva, mas que já deixa peões, torres, cavalos, bispos rainha e rei arrumados no tabuleiro para o jogo de 2023 (que já até começou). Então, explico o outro lado da dependência e deixo outra expressão para explicar posteriormente “Necessidade e desejo”.

A China começou a adquirir volumes expressivos de carne bovina do Brasil por estar com sua produção de carne suína arruinada pela peste suína africana, os efeitos iniciais foram no começo de 2020. Desde então a China trabalha para profissionalizar e recuperar sua produção de carne suína e elevar sua capacidade de negociação de compra de carne bovina (observe que não usei a expressão eliminar a dependência de carne bovina brasileira, norte-americana ou argentina). A recuperação da China já ocorreu há tempos.

Quero dizer que a carne bovina na China até os efeitos da peste suína africana era objeto de desejo para a população chinesa e virou necessidade de abastecimento e por fim necessidade real de consumo! Os chineses não ficam mais sem carne bovina e o governo daquele país sabe disso.

Se há alguma dependência que os chineses comprem carne bovina brasileira, há outra ainda maior do outro lado: a China precisa consumir carne bovina e o mais capaz de fornecedor é o Brasil. E quanto ao consumo chinês ele é o tal de “consumo estrangeiro de carne bovina brasileiro consolidado”. Trata-se de um novíssimo traço cultural da China o desejo virou necessidade muito rápido e com isso, em consideração ao peso da segunda maior economia do mundo (alguns economistas afirmam ser, virtualmente, a primeira) o consumo interno de carne bovina vai seguir aumentando, mesmo com a produção doméstica de carne suína.

***Necessidade X desejo

É um fundamento de trabalho pelo marketing em geral que pega elementos, produtos, experiências, etc, das pessoas que muitos consideram “sonhos”, portanto desejo. A ação de marketing e por delineamento massivo de suas características converte o desejo em necessidade (no caso da carne bovina, apenas fizeram os chineses experimentarem). E todos sabem que sem o primeiro elemento citado (desejo/sonho) é possível viver, mas não sem aquilo que é necessário. A necessidade de consumo de carne bovina é total pela China.

Em 2022 vimos também a mudança de ciclo pecuário dar o seu start. Algo normal e esperado, mas que trouxe a elevação de oferta de gado pronto para o abate e, com isso, a folga nas escalas de abate. O ano, principalmente no segundo semestre foi de altas moderadas e pressão negativa no valor da arroba. O cenário mais complicado e desafiador para parte relevante da população brasileira, demanda interna, com menor capacidade financeira reduziu o consumo doméstico. A “equação” citada limitou preços para arroba.

Já estamos quase em 2023 e devemos começar com a mesma fundamentação do final deste ano, talvez com uma maior liquidez nos negócios, diferente do mês de dezembro. E natural vermos a participação de fêmeas ficar elevada nos próximos meses. O pecuarista precisa focar na produção a pasto e controle nos investimentos em insumos.

Um 2023 de grandes negócios e de pecuária cada vez mais forte para você!

 

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