13/09/2022 às 11h18min - Atualizada em 13/09/2022 às 11h18min

Mercado do boi gordo tem estabilidade e preocupações com promessas eleitorais

A linha de frente do mercado da pecuária bovina de corte não apresenta alterações de maneira mais abrangente ou, até mesmo, esperada pelos pecuaristas brasileiros. Os cenários se mantêm muito consistentes ainda, com poucos elementos para mudar os fundamentos que seguem sólidos, mas com menor capacidade de exercer pressões mais vigorosas, capazes de fazer a arroba do boi gordo ceder ainda mais.

Estamos em um momento distinto da cadeia produtiva da carne bovina. Há uma clara tendência de novo ciclo se abrindo, o que deve em algum momento elevar, de maneira substancial, o abate de fêmeas e aumentar um pouco mais a oferta interna, fator que pode exercer pressão nos preços a partir de janeiro. Por outro lado, os custos para aquisição de bezerros e gado magro também devem ceder.

Dentro dos elementos a serem tratados no artigo desta semana, temos ainda uma escala da indústria frigorífica folgada, na casa de 11 a 12 dias pela média nacional. Há estabilidade de preços para arroba no país. As exportações seguem muito bem, com grandes volumes sendo embarcados e receita também elevada, com aquisições fortes da China. A mesma China que conta com forte desvalorização de sua moeda e conseguiu pressionar os exportadores brasileiros.

Somado a tudo isso, ainda vi uma promessa de campanha eleitoral, absurda, mas real, com o candidato presidencial afirmando que vai conter ou reduzir as exportações de carne bovina para garantir melhor acesso ao produto em território nacional.

Já aviso, o artigo de hoje deve ser mais extenso e trabalhado, quase que como um jogo de tênis em Grand Slam.

As linhas não mudam. Temos visto alguns negócios sendo registrados com valores acima dos preços de referência, mas são boiadas bem específicas, lotes “especiais”. Por outro lado, não existe espaço para novos recuos e o mercado atingiu a linha de resistência. Este último elemento impede pressão mais severa ao mesmo tempo que as escalas, ainda frouxas, garantem pouca variação no teto.

A pecuária brasileira tem segurado fêmeas nos últimos anos, mas os descartes vão começar. O fato vai aliviar os pastos, vai dar uma nova cara para a pecuária de cria e também terminação. O primeiro impacto, quando o fluxo ficar intenso, é redução no preço da arroba do boi, já que haverá concorrência com arroba da vaca. Devemos ver também (espero que sim) queda de preço no comércio varejista do Brasil, com o consumidor sendo beneficiado.

As escalas estão frouxas ainda e os frigoríficos trabalham com alguma tranquilidade. Do outro lado, o pecuarista, em média, não tem grandes volumes para entregar / negociar. As exportações de carne bovina seguem em bom ritmo e vimos nosso principal comprador, a China, repactuar alguns contratos, alegando nova desvalorização do Yuan, moeda daquele país. No meu entendimento, sob a ótica econômica, a autoridade monetária chinesa, apesar de alegar que atua contra as fortes desvalorizações da moeda, na prática parece fazer justamente o contrário. É fato alguns países desvalorizarem artificialmente suas moedas para ganharem competitividade no mercado internacional ou não atuarem para inversão de força da moeda quando ela recua naturalmente. Somente em 2022 o Yuan desvalorizou próximo a 10%.

A campanha eleitoral tem trazido algumas pérolas que denotam grande preocupação. Apesar de não ter muita crença em pesquisas (mesmo que ela seja bem-feita reflete apenas um momento, um pequeno recorte para o período que foi feita) elas têm apontado para uma sentença. E na esteira das promessas, com a provável intenção de agregar votos, o candidato que lidera as pesquisas prometeu reduzir ou reter parte das exportações de carne bovina do Brasil. Preocupante… então, vou explicar economicamente o motivo da decisão ser um tiro no pé e com a elevação dos preços da carne bovina em curto prazo no mercado doméstico.

Tentem imaginar que um determinado grupo pecuário trabalha com mil bois para abate. Cerca de 30% vai para a exportação e, a maior parte, 70%, para o consumo interno. O que vai para o exterior, seguramente, tem melhores preços, margens mais rentáveis e AJUDAM A REDUZIR O CUSTO DOS 70% que serão abatidos para atender o mercado interno. Caso alguém resolvesse reduzir o que pode ser exportado (medida arbitrária) poderia ter até um resultado imediato de maior disponibilidade de carne bovina no mercado interno. Entretanto, ainda no curto prazo, os preços se elevam fortemente no mercado doméstico. A explicação é simples: o grupo pecuário do exemplo não vai mais trabalhar com mil bois, serão volumes menores! 800 ou 700 e com o custo ainda mais alto, afinal estão embarcando menos.

Sabia que essa bobagem já foi feita? Sabe quem fez?

A Argentina. Os governantes daquele país arruinaram um dos maiores players internacionais de carne bovina e ainda reduziram a oferta interna com suas “retenciones” elevando o preço para o consumidor portenho. Do ponto de vista econômico foi arbitrário e pouco inteligente e do ponto de vista social uma punhalada no bolso da própria população. Momentos difíceis por lá, que não espero ver por aqui.

Por fim, aguardo semana de estabilidade, com poucas movimentações, sem grandes alterações.

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