São Paulo, 6 - Uma empresária do agronegócio baiano orientou que empresários do setor demitam funcionários que votem no ex-presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Ontem, vimos aberrações do 'cara lá' no Jornal Nacional e eu queria falar algo para os nossos agricultores: façam um levantamento, quem vai votar no Lula e demitam. Demitam sem dó porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia também", disse Roseli Vitória Martelli D'Agostini Lins em vídeo divulgado nas suas redes sociais. Ela também critica os eleitores que votarão em ACM Neto (União Brasil) para o governo do Estado. Roseli diz que os agricultores precisam tomar posição e que não se trata de uma questão de "direito" e sim de "sobrevivência". A empresária é sócia da Imbuia Agropecuária Ltda., de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia - região tradicional produtora de grãos e algodão. A empresa atua no cultivo de soja, algodão, milho, cana-de-açúcar, feijão, arroz e girassol. Em uma rede social, Roseli se diz aposentada, "conservadora" e "entusiasta pelos rumos que o Brasil está trilhando", ao lado de uma foto em apoio aos atos de 7 de setembro. Luís Eduardo Magalhães foi um dos apenas quatro municípios baianos, de 417, onde o presidente Jair Bolsonaro teve mais votos que Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018. Lem, como a cidade é conhecida, foi o município baiano que mais votou em Bolsonaro no último pleito, com 58,80% dos votos válidos contra 41,20% de Fernando Haddad, de acordo com dados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). O presidente Bolsonaro esteve na cidade no fim de maio na abertura da Bahia Farm Show, segunda maior feira agropecuária do País. O agro é a base da economia da região. <b>Investigação</b> Após a divulgação do vídeo, o Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT) informou que está apurando se há assédio eleitoral nas declarações da empresária. Segundo o MPT, um inquérito civil foi instaurado para investigar o caso. "O caso foi enquadrado como assédio eleitoral, que é o conjunto de atitudes do empregador no sentido de induzir os trabalhadores a votar ou deixar de votar em um candidato nas eleições. O MPT vem chamando a atenção para a necessidade de que empregadores respeitem os limites legais e não adotem qualquer atitude que possa se caracterizar como constrangimento ou orientação àqueles que trabalhem para eles em relação ao processo eleitoral", diz o ministério em nota. O caso está sendo apurado pela unidade do MPT de Barreiras, município também do oeste baiano. A procuradora responsável pelo caso afirmou em apreciação prévia que a liberdade de expressão não se preserva diante de cidadãos constrangidos ao "voto de cabresto". "As declarações extrapolam o âmbito da opinião, ultrapassando o limite da liberdade de expressão, tendo em vista que visam a reprimir o exercício da liberdade de voto de empregados do setor do agronegócio", disse a procuradora. Ao Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a assessoria do MPT informou que a procuradora já possui as informações para notificar a autora das declarações para prestar esclarecimento e que ainda nesta semana deve ter a data do depoimento agendada.