29/07/2021 às 18h00min - Atualizada em 29/07/2021 às 18h00min

Juros recuam, pressionados pelo câmbio e após PIB dos EUA frustrar estimativas

Reagindo, ainda, tanto à postura “dovish” (inclinação à manutenção dos estímulos) apresentada na quarta-feira (28) pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, quanto ao PIB dos Estados Unidos do segundo trimestre, mais fraco do que o esperado, os juros futuros encerraram a quinta-feira (29) em queda.

O recuo foi mais intenso no trecho intermediário da curva, em um movimento em linha com o câmbio.

Finalizado o pregão regular, às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passou de 6,24% no ajuste anterior para 6,195%; a do DI para janeiro de 2023 recuou de 7,68% para 7,575%; a do contrato para janeiro de 2025 caiu de 8,45% para 8,37% e a do DI para janeiro de 2027 anotou baixa de 8,76% para 8,72%.

O ambiente externo mais propício à tomada de risco foi o principal catalisador do mercado de juros, já que os investidores mostraram apetite por ativos de risco em reação à mensagem do Fed de que o início do “tapering” (processo de redução de compras de ativos) ainda não está próximo, apesar dos avanços na economia americana.

“Hoje, ficamos seguindo a melhora no apetite lá fora e também ocorreu um ajuste, depois das sessões recentes em que vimos as taxas em alta. Não dá para subir todo dia”, diz Paulo Nepomuceno, profissional da mesa de derivativos da corretora Terra Investimentos.

O PIB americano do segundo trimestre foi o principal item da agenda de indicadores econômicos e acentuou a queda dos DIs, depois que o crescimento da economia americana, de 6,5% a uma taxa anualizada, veio bem abaixo das expectativas do mercado, de 8,4%.

O economista sênior do BMO Capital Markets, Sal Guatieri, explica que as restrições de oferta e a escassez de mão de obra aumentaram no período, deteriorando a performance da economia americana. Ele também cita que as principais pressões de baixa para o PIB ocorreram nos estoques comerciais, que caíram ainda mais do que no trimestre anterior, e na construção residencial, que se contraiu em meio a vendas e atividades mais frias, à medida que preços crescentes diminuíram a acessibilidade dos consumidores.

A frustração com o dado americano de hoje dá razão à postura “dovish” do Fed, aponta Eduardo Cubas, sócio e responsável pela área da alocação da Manchester Investimentos. “Os números favorecem a visão de permissividade do Fed com a inflação, tiram o fôlego do dólar e mantêm as curvas de juros globais mais baixas, já que não há sinal de ação de política monetária vindo dos EUA”, diz o profissional.

Economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, pontua que as taxas futuras cederam, hoje, mesmo com a continuidade da expectativa do mercado de alta da taxa Selic de 1 ponto na semana que vem, pois também repercutiram uma leitura mais positiva da inflação. “O IGP-M abaixo do esperado e com dinâmica favorável do IPA ajudou”, escreveu, em nota.

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) acelerou para 0,78% em julho, de 0,60% em junho, sendo que as expectativas do mercado eram de 0,89%. Apesar do Índice de Preços ao Produtor Amplo, que corresponde a 60% do indicador, ter acelerado, tanto a taxa dos bens finais como a dos bens intermediários perderam vigor no período.

Cabe destacar que, hoje, o Tesouro Nacional captou R$ 19,2 bilhões ao vender integralmente 8,5 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN), 96% do lote de 1,3 milhão de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) e 100% das 1 milhão de Letras Financeiras do Tesouro (LFT) ofertadas.

Em termos de risco (dv01, métrica associada à quantidade de risco que o mercado deve absorver), a oferta de prefixados veio em linha com a da semana passada (de R$ 1,97 milhão). As taxas das LTNs na operação vieram abaixo do consenso do mercado, segundo a Necton, favorecendo também a queda dos juros do miolo da curva, em um movimento de natureza técnica.

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