29/07/2021 às 14h00min - Atualizada em 29/07/2021 às 14h00min

Sem volatilidade do minério, IGP-M teria desacelerado em julho, diz FGV

Não fosse a volatilidade nos preços do minério de ferro, a inflação no atacado e o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) teriam desacelerado em julho, afirmou André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Divulgado nesta quinta-feira pela entidade, o IGP-M avançou de 0,60% em junho para 0,78% um mês depois.

A mediana de estimativas de 23 analistas consultados pelo Valor Data previa alta maior para o dado, de 0,89%. “O IGP-M poderia ter surpreendido ainda mais o mercado se o minério tivesse continuado em queda”, avalia Braz. Para ele, o aumento nas cotações da matéria-prima é explicado pela expansão das importações da China com origem no Brasil, em detrimento de outros fornecedores, como a Austrália.

A commodity metálica subiu 2,7% em julho, depois de recuar 3,04% um mês antes. “Quase metade da inflação no atacado foi dada pelo minério, que é o subitem que mais pesa dentro do atacado”, observou o economista. Em seus cálculos, o minério respondeu por 0,34 ponto percentual da taxa deste mês do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que subiu 0,71% em julho, ante 0,42% em junho. O IPA representa 60% dos IGPs.

Com exceção do minério de ferro, a maior parte das matérias-primas brutas mostrou desaceleração ou queda, ressalta Braz. Como exemplo, ele menciona café (8,15% para 0,04%), cana (7,73% para 1,36%) e trigo (-1,33% para -5,79%). Esses não são itens de maior peso no IPA, mas foram destacados pelo economista porque sua trajetória de descompressão está ameaçada pela crise hídrica no país, assim como pelas geadas recentes.

“Eles não têm garantia de que continuarão negativos”, aponta Braz, destacando que o café e a cana aumentaram 66,7% e 53% em 12 meses, respectivamente, aceleração que ele relaciona às perdas provocadas pela seca. O mesmo vale para a soja, que ampliou sua deflação de 4,71% para 5,92% entre junho e julho. “A soja está sendo afetada pelo problema da seca no Meio-Oeste dos Estados Unidos. As previsões de safra lá pioraram, o que pode provocar aumento de preços internacionais.”

Por isso, o coordenador de índices de preços do FGV Ibre acredita que a inflação comportada de matérias-primas brutas, que aumentaram apenas 0,09% em julho, depois de recuarem 1,28% no mês anterior, pode ser revertida nos próximos meses. “Essa taxa em torno de zero pode ter tempo limitado devido à seca nos EUA. E as geadas também podem afetar os preços domésticos”, disse.

No estágio seguinte de produção, os bens intermediários desaceleraram de 1,78% para 1,15%, mas Braz ressalta que há trajetória heterogênea nesse subgrupo, e que o cenário de forte pressão de custos na indústria não ficou para trás. Os materiais para manufatura recuaram 0,39% agora, após alta de 1,68% em junho, mas a queda foi conduzida por três itens que devem voltar a subir em breve, diz Braz: álcool anidro, óleo de soja e bobinas a quente. São preços influenciados pela cana, pela soja em grão e pelo minério, observou.

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