08/03/2022 às 10h25min - Atualizada em 08/03/2022 às 10h25min

Mercado externo X mercado doméstico: Quanta diferença!

Muita agitação no começo deste mês de março em torno dos frigoríficos adotarem uma prática na aquisição de gado pronto, semelhante a da China quando compra soja do Brasil e Estados Unidos. As exportações seguem em alta, com mercado doméstico capengando (como havíamos previsto nesta coluna) e escalas diversas para a indústria brasileira.

Começo a definir melhor as afirmações do parágrafo anterior em ordem inversa do citado. Primeiramente, as escalas da indústria frigorífica.

É primordial ao pensar em escala lembrar-se do boi padrão China, animais de até 30 meses com todas as demais características exigidas pelo país asiático. Com este parâmetro temos animais adequados (divididos nas mais diversas categorias) com plantas frigoríficas capazes de negociar de maneira satisfatória para o elo da produção, montar escalas e ter excelentes margens de rentabilidade com suas exportações.

Então, nesta última semana de Carnaval, sem festividades, mas com quase tudo parando, vimos uma retomada na média nacional de dias garantidos de trabalho para a indústria, alta leve para oito dias, com preços firmes e até ganhos em algumas praças brasileiras. O Estado de São Paulo também subiu um dia, para oito de trabalho garantidos. O Mato Grosso está em sete dias garantidos de trabalho e no Mato Grosso do Sul apenas quatro dias.

Temos um cenário de forte demanda externa e o mercado doméstico cada vez menos animador. É inegável, não se tratar apenas do nível de desemprego, mas também, da qualidade da renda média do brasileiro. O poder de compra da população sofre golpes quase diariamente. Do ponto de vista econômico, o cenário deve piorar muito com os efeitos de problemas climáticos e da guerra invocada pela Rússia.

Sem entrar no mérito da questão, nosso foco é a pecuária, mas, neste caso, o empobrecimento de parte considerável dos brasileiros impede que eles comprem e consumam carne bovina como deveriam e gostariam. E é claro que isso impacta no mercado do boi gordo. Traz uma espécie de limitante, uma forte dificuldade de repasse de preços (custos e margens) na cadeia produtiva da carne bovina. O mercado consumidor de carne bovina brasileiro é um dos mais importantes do mundo, já disse isso por aqui.

O mercado externo segue muito forte na demanda por carne bovina brasileira e o mês de fevereiro teve expressiva alta de 55,83% no volume embarcado e a receita 92% superior ao mesmo período do ano passado. Foram 159,100 mil toneladas de carne bovina in natura comercializadas por um recorde de US$ 889,48 milhões. Foco no preço da tonelada média mensal que compensa demais a queda do dólar, ficando em US$ 5,59 mil (para a China passou de US$ 6,40 mil).

Quanto à afirmação do primeiro parágrafo… A China não faz aquisição ou negocia toda a soja que precisa comprar de uma vez (seja mensal, trimestral, semestral ou anual), faz as negociações em “conta-gotas”. Trata-se de uma forma de não permitir disparadas nos preços internacionais ou pagar os valores nos patamares mais altos, ao vender aos poucos, consegue diluir e adiar elevações. A indústria frigorífica brasileira tem buscado estratégias semelhantes.

Para a semana os preços para o boi padrão China podem ter propostas pontuais melhores em São Paulo e Mato Grosso do Sul. No cenário doméstico, a expectativa é de estabilidade.

 

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