Num primeiro momento, mercado do boi não vai ser afetado pela guerra, diz especialista

07/03/2022 07h37 - Atualizado em 07/03/2022 às 11h25

Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, disse em entrevista ao AgroMais, que num primeiro momento a guerra entre a Rússia e a Ucrânia não deve afetar o mercado do boi gordo no Brasil. Uma guerra numa região geográfica como a atual, com o tempo acaba provocando impactos. Por ora, não é possível prever, mas a médio e longo prazos todos vamos sentir, afirmou.

Para ele, hoje, a precificação do nosso mercado do boi gordo tem relação com os problemas internos no Brasil. Em 2021 a Rússia importou, apenas, entre 1% e 2% de toda nossa produção. “Já fomos um grande exportador de carne bovina para a Rússia, mas ela vem se tornando autossuficiente em todas as proteínas animais”, coloca.

A compra de parte da nossa produção está ligada aos preços da proteína brasileira. Com a criação a pasto, outros países asiáticos, europeus ou americanos não conseguem competir. “É muito barata”, diz. Nessas regiões, por causa do clima, eles produzem bem em um ano e no seguinte, não.

Nossas exportações de carne bovina para o mercado russo foram diminuindo tanto que algumas grandes plantas não são mais habilitadas para aquele mercado. O Brasil teria sérios problemas, acredita, caso a China venha a parar de importar nossa carne.

Ele também lembra que do ponto de vista estratégico, a médio e longo prazos, a própria Rússia pode se tornar nosso grande concorrente para as vendas de carne bovina para a China. Ainda assim, os preços brasileiros continuarão competitivos. A Rússia, assim como outras praças produtoras, depende muito de milho e outros insumos para a engorda, o que impede a competitividade.

Isso pode acontecer por questões estratégicas (os dois países fazem fronteira). Os chineses compram grandes volumes no Brasil por causa de seus problemas políticos e restrições no mercado americano, de onde eles compravam antes. Ainda assim, o mercado do país asiático importa soja e milho brasileiros.

O preço dos fertilizantes também não afeta o mercado de carne porque o Brasil não usa esse insumo em larga escala nas pastagens. Só agora, diz ele, que os pecuaristas brasileiros estão se voltando para a melhoria das pastagens.

Lembra, no entanto, que os impactos paralelos da alta de preços de outros insumos por causa da guerra podem provocar pressão de alta. O aumento do milho, do farelo de soja e da energia vão impactar a inflação e o consumidor, que pode ter que pagar mais no varejo (no supermercado).

Mercado depois do Carnaval

Alcides disse que o Brasil vinha sofrendo com o desarranjo da economia por causa da pandemia. Os preços dos fertilizantes tiveram forte alta por duas vezes no ano passado. “Não vejo o preço abaixar” porque os ajustes (na economia) ainda não foram feitos.

Disse que a arroba do boi gordo nas principais praças brasileiras se manteve estável, em torno de R$ 318,00. Apenas em algumas praças ela se valorizou entre R$ 2,00 e R$ 3,00. E o chamado “boi China”, ou boi para exportação, se mantém e até se valorizou. Hoje é comercializado entre R$ 350,00, R$ 355,00 e até R$ 360,00.

Países como o Paraguai e a Colômbia se deram mal. O Paraguai chegou a suspender as vendas para a China. Isso porque eles dependem do sistema de compensação internacional (SWIFT) para as suas transações, que foi interrompido pelos administradores europeus. Não interfere nas transações brasileiras.

Da Redação.

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