A transformação digital afeta os mais diversos aspectos da nossa vida, mesmo quando não nos damos conta disso, e também tem seus efeitos sobre a agropecuária. Ela abre muitas possibilidades, pois permite coletar, processar e analisar grande volume de dados sobre o ambiente, os animais e as plantas. Com base nesses dados, as pessoas podem tomar decisões mais assertivas e reduzir os riscos da atividade. A análise de Patricia Menezes Santos, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, mostra a dimensão do processo tecnológico para a produção animal.
Segundo ela, a produção animal tem um papel relevante para a sustentabilidade e a segurança alimentar. Além da importância do ponto de vista econômico, explica, ela é fundamental para viabilizar pequenos e médios estabelecimentos rurais. “Por outro lado, em virtude da extensão da área de pastagens e do tamanho do rebanho, ela pode provocar impactos ambientais que ultrapassam as fronteiras das fazendas”, esclarece.
“Nesse sentido, o uso das tecnologias digitais poderá contribuir para que a pecuária se torne cada vez mais sustentável, de forma a atender as demandas dos diversos setores da sociedade, e ajudar na construção de um sistema agroalimentar mais justo e sustentável”, pondera.
O futuro
Na opinião da pesquisadora, a pecuária do futuro deve ser criativa e dependerá, cada vez mais, da aplicação de conhecimento e tecnologia. “Afinal, como podemos alimentar a população mundial com o menor impacto possível no ambiente? Como criar condições para que pequenos e médios estabelecimentos rurais sejam viáveis e não desapareçam? Quais as alternativas de produção viáveis para regiões marginais e de baixa aptidão agrícola?”, questiona.
Na visão de Patricia, a pecuária pode fazer parte dessas soluções, mas muitos desafios precisam ser vencidos. “É preciso criar condições para que os produtores tenham acesso e adotem as tecnologias já disponíveis e também as que serão desenvolvidas daqui para frente”, analisa.
Nesse cenário, Patricia prevê o desenvolvimento de novas tecnologias tanto com foco na solução de problemas enfrentados pelos produtores no seu dia a dia, quanto em questões de interesse da sociedade em geral.
“Seja qual for o seu propósito final, ao longo do processo de pesquisa e seu desenvolvimento, é preciso levar em consideração o ambiente no qual a tecnologia será aplicada e as dificuldades dos produtores para a sua adoção”, comenta. “A complexidade das soluções terá que ser traduzida em saídas tão simples e diretas quanto a receita do soro caseiro”, compara.
De acordo com Patricia, as tecnologias digitais criam condições para a coleta, o processamento e a análise de grande volume de dados sobre o ambiente, as plantas e os animais. Esses dados podem ser locais (pluviômetros ou estações meteorológicas instaladas em áreas da própria fazenda) ou regionais (estações meteorológicas regionais mantidas por diferentes instituições) e podem alimentar modelos que ajudam as pessoas a tomarem decisões em relação ao seu sistema de produção.
Como exemplo, a cientista diz que os produtores podem definir quantos animais podem colocar na fazenda ou em um determinado pasto com base na observação e experiência de alguém que conhece a área. Essa informação é condicionada pela capacidade de observação da pessoa e também pelo seu tempo de experiência.
“Com a aplicação de ferramentas digitais, será possível gerar cenários de produção e estimar o risco de eles se concretizarem ou não a partir de séries de dados de vários anos. Assim, o produtor terá informações que poderão lhe ajudar a escolher o que fazer, de acordo com seu perfil, seus objetivos e sua disposição ao risco”, arremata.