Trabalhar em um ambiente onde somos respeitados e bem tratados faz com que nossos dias sejam mais produtivos e, porque não dizer, mais agradáveis. Com os animais não é muito diferente. Rebanhos em que o manejo está pautado no conforto e bem-estar tendem a ser mais sustentáveis e rentáveis.
Diante deste cenário, a preocupação, não só com o bem-estar animal, mas também com sua saúde, está cada dia mais presente nos campos produtivos. Segundo a responsável pela reprodução, nutrição, gestão e manejo geral do rebanho leiteiro do Sítio São Sebastião, em Castro, PR, Mariele Stockler, mudar a visão em relação a como tratar os animais é fundamental.
“O principal cuidado para manter um animal bem confortável é se colocar no lugar desse animal e se perguntar, será que eu me sentiria bem no lugar dele?”, questiona e acrescenta que quanto mais ele se sentir à vontade, mais ele poderá dar retorno, o que pode ser traduzido em produtividade e também em facilidade de manejo.
Ela aponta que, para isso, é preciso deixá-lo sempre bem à vontade, com comida e água de boa qualidade, em um cocho ou recipiente limpo, além de prover um local adequado para que o animal possa deitar e descansar, com sombra nos dias de muito calor. “E sempre ter calma na lida, ou seja, não bater e não gritar com os animais, evitando, assim, o estresse, que pode interferir na produtividade”, orienta.
Segundo a criadora, todo cuidado, nesse sentido, gera retorno ao produtor, seja em um aumento na produção de leite, seja em prolongamento da vida produtiva desse animal, resultando em melhor retorno financeiro.
“Uma vaca confortável, além de produzir mais, terá uma vida mais saudável, com menos doenças, o que significa menos uso de medicamentos”, destaca e acrescenta que, além da economia, essas ações ainda contribuem na parte reprodutiva do animal.
Para os que pretendem se destacar na atividade de forma sustentável, a criadora acredita que uma das prioridades, em relação ao sistema produtivo, é a estrutura.
“Independente se é confinamento, semiconfinamento ou a pasto, é preciso oferecer um bom lugar ao animal. Se o sistema for confinamento, é importante ter uma boa ventilação e aspersão com água para ajudar a refrescar nos dias mais quentes, além de uma boa alimentação, de acordo com as suas necessidades”, ensina.
Além disso, Mariele afirma que dar atenção às boas práticas de manejo e manter a vacinação e vermífugos em dia são pontos que precisam de muita atenção dos produtores para garantir o bem-estar e melhorar a produtividade do animal. “Ao medicar, é preciso, também, tomar cuidados para que ele não sofra durante o processo. Precisamos pensar em dar ao animal a melhor vida que ele possa ter.”
Sobre a pecuária leiteira pós-pandemia, ela visualiza um cenário incerto, devido às altas nos custos de produção. “Tivemos preços bem mais altos do que imaginávamos, o que acabou acarretando em baixas significativas”, destaca ao lembrar-se de histórias de produtores que tiveram que deixar a atividade leiteira no Brasil por não conseguir lidar com essa situação.
“Para se manter na pecuária é preciso ter os pés no chão, ter todo cuidado na hora de investir e tentar sempre ter uma reserva mínima para períodos mais críticos”, avalia.
Sobre o futuro da atividade, ela acredita que é importante estar atento aos detalhes da produção pois, às vezes, um simples ajuste pode gerar um retorno significativo em todo processo.
“Independente se é pequeno ou grande produtor, se utiliza sistemas diferentes, como gado a campo, semiconfinado, confinado em free stall ou compost barn, o importante é sempre manter o foco, ter uma rotina na propriedade, procurando ajuda, quando precisar, ainda mais nos dias de hoje, em que a tecnologia nos permite conversar com pessoas de lugares diferentes, para troca de informações e de ideias”, afirma. “Investir no bem-estar animal, nunca é demais”, resume.