As importações de etanol pelo Brasil podem crescer mais de cinco vezes entre agosto de 2025 e março de 2026, em comparação com o mesmo período anterior. A projeção é da consultoria Argus, que aponta como principal fator o aumento da mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina — de 27% para 30%, medida que entra em vigor no dia 1º de agosto.
Segundo o levantamento, o volume importado pode alcançar entre 400 milhões e 800 milhões de litros no período, com grande parte proveniente dos Estados Unidos, maior produtor e exportador de etanol do mundo. Entre agosto de 2024 e março de 2025, o Brasil importou 148,3 milhões de litros, conforme dados do governo compilados pela consultoria.
“Esse volume não é visto nesse fluxo há pelo menos quatro anos... E o principal motivo para essa importação seria o E30”, afirmou Maria Ligia Barros, especialista em etanol da Argus. A média mensal das compras externas poderá ficar entre 50 milhões e 100 milhões de litros, de acordo com as estimativas.
O aumento da mistura foi bem recebido por produtores de biocombustíveis e, segundo o governo, deve ajudar o país a avançar em direção à autossuficiência em gasolina. No entanto, a mudança também tende a aquecer a demanda por etanol anidro, reduzindo a oferta de etanol hidratado, o que pode sustentar os preços internos dos dois tipos do biocombustível.
“Esses movimentos apoiam o preço dos dois tipos de etanol domesticamente e com isso o produto aqui internamente sobe de preço. E o mercado vislumbra, então, a possibilidade de ficar vantajoso trazer o produto de fora”, disse Barros.
Apesar do otimismo, a especialista alerta que os cálculos foram feitos com base no cenário atual e nas tarifas vigentes. Uma eventual escalada na guerra tarifária entre Brasil e Estados Unidos poderia alterar significativamente essa equação. O governo norte-americano pretende impor a partir de 1º de agosto uma taxa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, e o Brasil pode adotar medidas retaliatórias.
Hoje, o Brasil aplica tarifa de 18% sobre o etanol importado de fora do Mercosul. Já os EUA cobram 12,5% do etanol brasileiro — sendo 2,5% de tarifa base e mais 10% adicionais anunciados pelo presidente Donald Trump em abril.
De janeiro a junho de 2025, o Brasil importou em média 25 milhões de litros de etanol por mês, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Deste total, 64,35% vieram dos EUA, 29,79% da Argentina, 5,83% do Paraguai e uma pequena fração da Alemanha.