O real custo do antiamericanismo econômico

Bruno Sbrogio
14/07/2025 09h06 - Atualizado há 19 horas
O real custo do antiamericanismo econômico
Foto: reprodução

Não é de hoje que estamos vendo o governo Trump usar instrumentos econômicos e comerciais como ferramenta política. Ele tem feito isso desde seu mandato anterior, quando iniciou uma guerra comercial com a China. Em seu segundo mandato, ficou ainda mais evidente que ele aumentaria a pressão, usando meios comerciais para realinhar outros países à visão política americana. 

O crescimento chinês não ocorreu apenas no campo econômico. É bastante comum ver o país asiático usar sua influência para atrair países menores para sua órbita. Esse movimento é gradual, exatamente para minimizar a atenção do Ocidente, mas, após duas décadas de atuação chinesa, é inegável perceber sua intenção de isolar e colocar os EUA em posição de xeque-mate. Isso é feito sem alarde e sem conflitos armados, apenas com acordos de bastidores. Uma estratégia inteligente e digna do país de Sun Tzu.

China e Rússia possuem parcerias estratégicas e comerciais estreitas. O apoio mútuo é evidente. Ambos estão na mira do governo americano e sofrem pesadas sanções. Nos últimos anos, é perceptível o uso dos BRICS por essas nações como meio de expandir suas influências para outros países, o que chama a atenção de analistas. O grupo, inicialmente com pretensões econômicas pontuais, se expandiu e passou a absorver países notadamente autocráticos, em um antagonismo cada vez mais explícito em relação ao mundo livre, incluindo Venezuela e Irã. 

Ao Brasil, uma das maiores democracias ocidentais, parece ter sido dada a missão de questionar publicamente o dólar como moeda global, pondo em debate seu uso e iniciando um movimento que retira dos EUA grande parte do seu poder de pressão.

Para o Brasil, trocar o dólar por outra moeda não apresenta vantagem; pelo contrário. O Brasil é um grande exportador e mantém a maior parte de suas reservas internacionais em dólar, moeda garantida pela maior economia do mundo, que possui um Banco Central independente e transparente, e segue leis claras que asseguram previsibilidade e segurança — atributos que faltam à maioria das outras moedas aventadas como opção, como o yuan chinês, que não tem transparência e é manipulado pelo governo de Pequim conforme suas necessidades.

Lula da Silva foi avisado pelo governo americano sobre as consequências de seu ataque ao dólar, mas manteve o discurso inclusive na última reunião de cúpula dos BRICS voltando a pedir que fosse estudada uma alternativa ao dólar americano.

O Brasil, um país de segundo escalão para a diplomacia americana, aparenta ter servido aos interesses dos dois grandes do BRICS para abalar o dólar, questionando-o como moeda global. Para o Brasil, não há vantagens nesse movimento, mas para China e Rússia, a queda do dólar diminui a eficácia das sanções econômicas impostas pelos americanos. Lula da Silva colocou o Brasil no centro de um problema que não nos pertence.

A taxação tem motivação política? Sim, não há dúvidas quanto a isso. A pergunta é: por que um país que ocupa uma posição estratégica privilegiada, podendo obter vantagens comerciais sólidas com uma postura neutra, abriria mão dessa posição para defender a queda de uma moeda que protege o Brasil, visto que as reservas internacionais brasileiras estão em dólar? A quais interesses estamos servindo?

Temos um país com economia fragilizada, déficit persistente, inflação alta, taxa de juros elevada, setor produtivo e famílias sufocados por constantes aumentos de tributos. Deveríamos estar focados em uma agenda de reformas profundas e na busca persistente pelo equilíbrio fiscal e pelo corte de gastos. Qual o sentido de participar de um movimento internacional antiamericano? Essa forte taxação do nosso segundo maior parceiro comercial pode precipitar um sério problema econômico nos próximos meses.

A posição da Presidência, sinalizando reciprocidade, apenas comprova a alienação de um presidente que deveria agir como estadista, mas desconhece completamente as consequências dos atos que vem tomando. Um governo que provoca continuamente a maior potência econômica e militar do mundo oferece, enfim, a verdadeira lição de como não se deve fazer política — e agora colhemos consequências econômicas avassaladoras.
 

 


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