China evita EUA e aperta o cerco; Brasil pode ter que racionar soja até o fim de 2025

Guerra comercial e tarifas reduzem compras chinesas dos EUA, elevam demanda pelo grão brasileiro e podem gerar escassez interna.

- Da Redação, com Notícias Agrícolas
29/05/2025 08h21 - Atualizado há 2 semanas
China evita EUA e aperta o cerco; Brasil pode ter que racionar soja até o fim de 2025
Foto: reprodução

Com a safra 2024/25 da soja brasileira já 60% comercializada e a nova temporada dos Estados Unidos em desenvolvimento, o mercado internacional observa o comportamento da demanda chinesa, que ainda precisa adquirir grandes volumes do grão nos próximos meses. A continuidade da guerra comercial entre China e EUA, mesmo com tarifas atenuadas, coloca o Brasil em posição de destaque, mas também em alerta.
 

A produção americana deve ser, no máximo, regular este ano, com estimativas de 117,66 milhões de toneladas, inferior às 120,5 milhões da safra 2018/19, e com estoques finais apertados em apenas 7,44 milhões de toneladas. Diante de uma área plantada menor e clima instável no Corn Belt, não há margem para perdas. Ao mesmo tempo, o esmagamento interno nos EUA segue forte, reduzindo a oferta para exportação.
 

Para o analista Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, a dinâmica mudou. O Brasil agora domina o mercado global com volumes recordes, o que sustenta a competitividade do grão nacional por mais tempo. "Com o Brasil produzindo e embarcando muito, sua soja tende a ser sempre mais barata que a americana. Isso tira a atratividade da safra dos EUA até que seu programa de exportações comece de fato", afirma.
 

Segundo Vanin, a China ainda tem grandes volumes a comprar até setembro. A estimativa é de que o Brasil tenha 35 milhões de toneladas vendidas até lá, com um excedente de apenas 10 a 12 milhões de toneladas. “Se as grandes esmagadoras da China comprarem só do Brasil, vai faltar soja. O país pode ter que racionar”, alerta.

De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil já embarcou mais de 48,6 milhões de toneladas de soja em 2025, com previsão de ultrapassar 55 milhões nos próximos meses. Só em junho, os embarques devem superar 7,7 milhões de toneladas.

A projeção da Agrinvest para os estoques finais brasileiros em 2024/25 é de apenas 8,068 milhões de toneladas, com produção de 170,4 milhões, exportações de 105,4 milhões e esmagamento de 57,3 milhões. Para 2025/26, mesmo com produção prevista de 175,8 milhões, os estoques seguirão apertados, estimados em 9,9 milhões.

Nesse contexto, um novo acordo comercial entre China e EUA é apontado como determinante para o equilíbrio dos fluxos globais e dos preços da oleaginosa. Carlos Cogo, da Cogo Inteligência, acredita que a soja será uma peça central nas negociações. “Se um acordo sair antes da colheita americana, pode haver retomada da demanda chinesa por soja dos EUA, o que mudaria o cenário de preços e prêmios”, afirma.

Enquanto isso, os sinais são de oportunidade para o produtor brasileiro. Os prêmios para o início de 2026 estão levemente positivos, contrariando a tendência histórica de desvalorização no período. “O ambiente continua favorável para o produtor nacional seguir investindo em eficiência, tecnologia e boas estratégias comerciais”, conclui Cogo.

O quebra-cabeça da oferta e demanda global da soja, agora, depende mais do tabuleiro geopolítico do que do clima ou da produtividade agrícola. E, nesse jogo, cada tonelada pode fazer a diferença.

 

 


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