A carinata, planta originária da Etiópia e parente da canola, também conhecida como a soja do inverno, começa a ganhar terreno no agronegócio brasileiro como uma alternativa lucrativa e sustentável para a entressafra. Em 2025, a expectativa é que a cultura alcance entre 45 mil e 50 mil hectares no país, com 100% da produção contratada pela indústria ainda no momento do plantio, oferecendo previsibilidade e segurança ao produtor rural.
Utilizada para a produção de óleo destinado ao combustível sustentável de aviação (SAF), a carinata tem como trunfo o alto teor de ácido erúcico — composto de elevada densidade energética e características semelhantes ao querosene. O óleo não é destinado à alimentação humana, o que evita competição com culturas alimentares e atende às exigências do mercado europeu de combustíveis renováveis.
Em Chapadão do Sul (MS), o produtor Lauri Dalbosco já planta a cultura pelo segundo ano. “Ela cobre bem o solo, tem ciclo curto e contrato garantido por valor superior ao da soja. É muito interessante”, avalia. Segundo ele, a colheita ocorrerá em cerca de 60 dias.
Atualmente, toda a produção nacional é adquirida pela British Petroleum (BP), em parceria com a Nufarm, que lidera a expansão da cultura no Brasil. “Diferente de cultivos como o gergelim, mais sujeitos ao mercado, a carinata oferece previsibilidade. É uma cultura com grande potencial de crescimento”, explica Philipp Minarelli, gerente de Carinata e Canola da Nufarm Brasil.
Além da rentabilidade — com média de 25 sacas por hectare e lucro líquido estimado em R$ 800 por hectare —, a carinata contribui para o controle de doenças, como nematoides, melhora a estrutura do solo com suas raízes profundas e exige baixa quantidade de água. "São apenas 180 mm por ciclo, menos da metade da necessidade do trigo", destaca Minarelli.
Bruno Galveas Laviola, pesquisador da Embrapa, ressalta que a cultura pode ser integrada à rotação com soja, trazendo ganhos de produtividade para a lavoura seguinte. Estudos apontam que, em áreas onde a carinata foi cultivada antes da soja, houve aumento de até cinco sacas por hectare na colheita.
A carinata já ocupa cerca de 5 mil hectares na região de Dalbosco e vem sendo testada por outros produtores que buscam diversificar e proteger suas lavouras. No entanto, o crescimento da cultura ainda depende de avanços regulatórios, como o zoneamento agrícola e a ampliação do uso de defensivos.
Com a meta de entregar 250 bilhões de litros de SAF até 2050, o Brasil deve não só expandir a carinata, mas investir em um leque de cultivos voltados para bioenergia. “Há desafios, mas também um enorme potencial. A carinata é só o começo de uma nova fase para o agro brasileiro”, conclui Minarelli.