O clima virou protagonista global nos mercados agrícolas. Em uma reviravolta de cenário, cinco das maiores potências produtoras de grãos do planeta enfrentam problemas climáticos severos, mexendo com as cotações da soja e do milho nas bolsas de Chicago e da B3.
Na Argentina, o que era uma expectativa de colheita promissora se transformou em cenário de desastre. Chuvas intensas varreram as regiões produtoras de Buenos Aires, com volumes que chegaram a 400 mm em menos de uma semana — três vezes a média histórica de maio. Localidades como San Antonio de Areco, Salto e Pergamino registraram alagamentos extensos. Lavouras de milho maduras estão submersas, silos-bag foram atingidos e os produtores já contabilizam perdas significativas.
A logística foi paralisada, o risco de contaminação por fungos na armazenagem emergencial preocupa, e a janela de exportação da segunda safra de milho está comprometida — um problema que impacta todo o fluxo sul-americano.
Nos Estados Unidos, o plantio vinha avançando bem até o último fim de semana, quando duas frentes de tempestade atingiram o sul do Corn Belt. Estados como Missouri, Kentucky e Arkansas registraram chuvas entre 75 mm e 125 mm. O milho recém-plantado está ameaçado por apodrecimento radicular, enquanto áreas que ainda esperavam semeadura podem perder a janela ideal e ser convertidas para soja. A instabilidade de maio já pressiona os contratos futuros em Chicago.
Na Rússia, geadas fora de época somadas à seca no pós-inverno levaram à decretação de emergência agrícola em regiões-chave do país. A safra de trigo corre risco estrutural, e mesmo que a produção final dependa das próximas semanas, o mercado futuro já reage com preocupação, principalmente diante dos baixos estoques no Mar Negro.
Na China, a seca volta a ameaçar as províncias centrais de Henan, Shaanxi e Jiangsu. A irrigação está comprometida e há alerta para possíveis perdas no trigo de primavera. O governo monitora de perto, mas cresce a expectativa de que o país aumente as importações no segundo semestre para recompor estoques estratégicos.
O Brasil, que vinha fora dos holofotes climáticos, agora também entra no mapa da apreensão. Nos últimos dias, geadas atingiram áreas de milho safrinha no Paraná, Mato Grosso do Sul e partes do interior de São Paulo. As temperaturas baixas afetaram lavouras em estágio crítico, como floração e enchimento de grãos. A reação do mercado foi imediata: o contrato de milho para julho na B3 subiu mais de 2%, refletindo o risco de quebra regional.