Com os embargos internacionais as exportações de carne de frango devido à confirmação de um foco de gripe aviária em granja comercial no Rio Grande do Sul, o Brasil enfrenta um novo desafio: a falta de capacidade para armazenar o excedente da produção. Caso os bloqueios se estendam por 60 dias, o país poderá ter de absorver mais de 400 mil toneladas de carne de frango no mercado interno, volume para o qual não há infraestrutura logística adequada.
A projeção do jornalista Giovani Ferreira, alerta que, embora o país tenha obtido o melhor quadrimestre de exportação de carne de frango dos últimos cinco anos (com 1,731 milhão de toneladas vendidas e receita de US$ 3,13 bilhões), a continuidade dos embargos pode provocar perdas bilionárias. “Se os embargos durarem dois meses, o prejuízo estimado vai de US$ 1,5 a US$ 2 bilhões”, calcula.
Atualmente, 60% da produção nacional de carne de frango está concentrada na Região Sul, com destaque para o Paraná, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esses três -estados são responsáveis por 78% das exportações brasileiras do produto. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), somente entre maio e junho de 2024, o Brasil -exportou 831 mil toneladas de carne de frango, com receita de US$ 1,48 bilhão — metade desse volume, hoje, estaria impedida de chegar ao destino final.
O problema é que cerca de 400 mil toneladas dessas vendas iriam para países que suspenderam as compras. Sem a exportação, essa carne teria de ser consumida -internamente”, afirma Ferreira. Com o consumo per capita anual atual em 35 kg, seria necessário que cada brasileiro aumentasse esse número em 5 kg em apenas dois meses o que é considerado pouco viável. “A carne de frango já é a proteína mais consumida e a mais acessível no país.”
Além da dificuldade de absorção no mercado interno, outro ponto crítico é a capacidade limitada de armazenagem do produto. De acordo com Ferreira, o país só teria espaço para estocar o excedente por um período de 15 a 20 dias, no máximo. Após esse prazo, frigoríficos e abatedouros teriam de lidar com estoques lotados e possíveis perdas.
Contrariando declaração do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que minimizou os efeitos do embargo, Ferreira acredita que haverá, sim, impacto nos preços pagos ao produtor, nas margens das indústrias e em toda a cadeia da avicultura. A normalização do mercado depende do controle rápido dos focos de gripe aviária e da confiança dos países compradores.