Governo Trump avalia ajuda a agricultores, mas efeitos de tarifas devem persistir

POR ESTADÃO CONTEÚDO
10/04/2025 08h30 - Atualizado há 1 dia

Nova York, 10 - Autoridades do governo dos Estados Unidos estão avaliando um pacote de ajuda para socorrer agricultores do país, diante dos possíveis prejuízos causados pela nova escalada nas disputas tarifárias. Especialistas alertam, porém, que essa ajuda provavelmente não será suficiente para proteger totalmente os produtores dos impactos da guerra comercial.

Qualquer pacote de ajuda tende a beneficiar principalmente as grandes propriedades, deixando muitos pequenos agricultores em situação difícil - como já ocorreu durante a guerra comercial de 2018. "O governo pode cobrir parte das perdas por meio de auxílio. Mas raramente esses valores correspondem às perdas reais dos agricultores", disse Chris Barrett, professor de políticas públicas e economia da Universidade Cornell.

Isso também não compensa a perda de mercado para países concorrentes como o Brasil. Os agricultores americanos terão de buscar novos compradores, o que pode significar maiores custos com contratos e logística.

Na semana passada, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou tarifas de 10% sobre todas as importações, com taxas ainda mais altas para alguns países. China e outros parceiros comerciais anunciaram medidas de retaliação, muitas das quais têm como alvo produtos agrícolas dos EUA.

A China já tinha aplicado tarifas de 10% a 15% sobre US$ 21 bilhões em produtos agrícolas americanos em março. Nesta quarta-feira, Pequim anunciou uma tarifa de 84% sobre todos os bens dos EUA - um salto em relação aos 34% anunciados anteriormente. A União Europeia também aprovou seu primeiro pacote de retaliação, com tarifas sobre 21 bilhões de euros (US$ 23 bilhões) em produtos americanos, incluindo amêndoas e soja.

Caso a guerra comercial não seja resolvida em breve, as medidas retaliatórias poderão reduzir as exportações agrícolas dos EUA, pressionar as cotações e reduzir os lucros dos agricultores, que já enfrentam preços baixos de commodities e aumento nos custos de produção.

Segundo a Federação Agrícola Americana, as exportações representam cerca de 20% da renda agrícola dos EUA. O impacto pode ser ainda maior para culturas como a soja, cuja metade da produção é exportada.

As tarifas dos EUA sobre produtos importados - de fertilizantes a máquinas agrícolas - também podem aumentar ainda mais os custos para os produtores e reduzir suas margens de lucro.

Em comparação a 2018, quando teve início a primeira guerra comercial entre EUA e China, os agricultores enfrentam hoje uma situação financeira pior. Os preços de muitas commodities vêm caindo, enquanto os custos com terras, sementes, pesticidas e fertilizantes continuam subindo. Isso significa margens mais estreitas e menos reservas para lidar com a queda na receita.

Em 2018, o USDA anunciou um pacote de ajuda de US$ 12 bilhões que incluía pagamentos diretos, compras governamentais de excedentes e desenvolvimento de novos mercados de exportação. Um ano depois, foi lançado outro pacote de US$ 16 bilhões, totalizando US$ 28 bilhões. Somente os pagamentos diretos entre 2018 e 2020 somaram US$ 23 bilhões, segundo o Environmental Working Group, organização de ativismo agrícola. Isso representou mais de um quarto da receita total das fazendas em 2019, e quase a metade em 2020.

Apesar dos bilhões de dólares em ajuda federal, as falências de fazendas familiares aumentaram 20% em 2019, chegando a quase 600 casos, de acordo com a Federação Agrícola Americana. Como os subsídios eram baseados em volume, acabaram beneficiando mais as grandes fazendas, e não necessariamente aquelas mais vulneráveis.

Para 2025, os pagamentos diretos do governo aos agricultores já devem atingir US$ 42,4 bilhões, mais de quatro vezes os US$ 9,3 bilhões do ano passado, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Qualquer nova ajuda ligada à guerra tarifária pode deixar os subsídios agrícolas deste ano acima dos níveis de 2020, estabelecendo recorde. Fonte: Dow Jones Newswires.


Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO
FONTE: ESTADÃO CONTEÚDO
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