A busca por uma pecuária mais eficiente e sustentável passa, inevitavelmente, pelo aumento da produtividade aliado à redução da emissão de gases de efeito estufa por quilograma de carne ou leite produzido. O metano entérico, emitido pelos ruminantes durante o processo de fermentação no rúmen, é um dos principais desafios ambientais do setor. No entanto, diversas pesquisas demonstram que o uso de tecnologias para melhorar o desempenho animal não apenas impulsiona a produção, mas também contribui para a mitigação dessas emissões. Melhorias na qualidade das pastagens, uso estratégico de concentrados, inclusão de aditivos como ionóforos, taninos e peptídeos são algumas das estratégias que favorecem um sistema de produção mais sustentável e competitivo.
A relação entre eficiência produtiva e mitigação de emissões de metano está diretamente ligada ao aproveitamento dos nutrientes e à digestibilidade da dieta. Sistemas de pastejo bem manejados garantem forragens de melhor qualidade, reduzindo a proporção de fibra indigestível na dieta dos bovinos e, consequentemente, diminuindo a produção de metano por fermentação entérica. Além disso, pastagens bem adubadas aumentam a taxa de lotação e a produção de arrobas por hectare, reduzindo o impacto ambiental por unidade de produto gerado. As pastagens adubadas fazem mais fotossíntese, retirando uma maior quantidade de CO2 da atmosfera.
A inclusão de concentrados na dieta, especialmente os ricos em amido, altera o perfil fermentativo do rúmen, reduzindo a formação de metano. Isso ocorre porque a fermentação de carboidratos não fibrosos gera menos hidrogênio livre, substrato essencial para a produção de metano pelas bactérias metanogênicas. Assim, sistemas de suplementação estratégica, como o uso de confinamento e semi-confinamento, não apenas melhoram o desempenho animal, mas também contribuem para a redução das emissões, além de diminuir a idade de abate e o tempo de emissão de metano por esses animais.
Os aditivos alimentares vêm ganhando espaço como ferramentas eficazes na mitigação de metano. Os ionóforos, como a monensina, modulam a fermentação ruminal, favorecendo microrganismos que competem com as bactérias metanogênicas. Já os taninos e saponinas têm efeito antimicrobiano seletivo, reduzindo a população de microrganismos produtores de metano. Outra alternativa promissora são os peptídeos bioativos, que atuam na modulação da microbiota ruminal, promovendo uma fermentação mais eficiente e reduzindo a perda de energia na forma de metano4.
A tabela a seguir ilustra o impacto de diferentes estratégias na redução da emissão de metano em bovinos de corte:
Estratégia | Redução estimada de metano (%) |
Melhor manejo de pastagens | 10 - 20% |
Uso de concentrados | 15 - 30% |
Ionóforos | 10 - 25% |
Taninos e saponinas | 10 - 30% |
Peptídeos bioativos | 20 - 40% |
Fonte: Boletim Cicarne no. 29
O aumento da eficiência produtiva na pecuária não deve ser visto apenas como uma estratégia econômica, mas também como uma ferramenta ambiental. Tecnologias que melhoram a conversão alimentar, reduzem o tempo de terminação e otimizam a digestibilidade das dietas são fundamentais para reduzir as emissões de metano por quilo de carne produzida. Além disso, com a crescente demanda por produtos de origem animal com menor pegada de carbono, a adoção dessas práticas se torna um diferencial competitivo para pecuaristas. O desafio da sustentabilidade na pecuária passa por produzir mais arrobas com menos impacto, e as soluções para isso já estão ao nosso alcance.