O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, admitiu nesta sexta-feira que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) “está rodando bastante alto na ponta”, mas disse que a autoridade monetária “tem instrumentos claros” para cumprir suas metas.
Ao participar de seminário promovido pela Esfera BR, em São Paulo, Campos Neto afirmou que o BC tem “preocupação com a inflação de serviços, que começa a subir”. Em outros componentes, disse que já se enxerga estabilidade nos preços, como nos de alimentos.
“Nunca tivemos tantos choques [inflacionários] em tão pouco tempo”, afirmou, citando “notícias preocupantes novamente na parte hídrica”, o que “preocupa obviamente do ponto de vista de inflação”. Segundo Campos Nato, haverá mais uma “reprecificação” da bandeira tarifária.
Em termos de expectativas de inflação, ele reconheceu que parte das expectativas para 2022 “têm subido recentemente”. Entretabnto, defendeu a maneira como o BC vem atuando, dizendo que a instituição tem “tentado ser o mais transparente possível” para que o mercado “entenda como vamos atuar”.
Ao comparar a inflação brasileira com a do resto do mundo, disse que “uma parte da inflação foi choque global” e que há um “grande debate que é o quanto essa inflação [global] do produtor vai passar para o consumidor”.
No exterior, já há “alguma acomodação” no preço das commodities internacionais, embora “commodities mais altas sejam favoráveis para o Brasil em termos de troca”, lembrou. Segundo ele, o “Brasil tem uma inflação alta, mas muito próxima da Rússia, Índia”, pois há “um processo de alta generalizado” de inflação nos países emergentes.
Pesou também contra o Brasil “uma desvalorização de câmbio um pouco maior do que outros países”. Por fim, o presidente do BC lembrou que o país fez o ajuste mais forte de juros entre os emergentes até agora.
Atualmente, a Selic está em 5,25% ao ano. Já o horizonte relevante para a política monetária inclui os anos de 2022 e, em menor grau, 2023, cujas metas de inflação são de 3,5% e 3,25%, respectivamente.
Presente no evento, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou que acredita “que haverá a convergência da inflação para a meta”.
Sobre as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem, Campos Neto disse que elas estão ligadas às eleições e ao quadro fiscal. “Acho que um pouco está antecipando as eleições, um pouco está ligado à [questão] fiscal.”
Ele lembrou que cada vez mais as expectativas para 2022 começam a ganhar peso nas análises em geral. Por enquanto, no Brasil, a “confiança está acima de níveis anteriores à pandemia, com a exceção do consumidor” e dados de alta frequência “mostram recuperação” recentemente.