O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, afirmou que o Brasil teve performance pior que seus pares em percepção de risco em agosto, por conta de preocupações com a trajetória fiscal. “A gente acumula alta bastante expressiva na curva de juros”, acrescentou.
Vital explicou que desde o fim de julho “vários debates que têm impacto fiscal” foram vistos com preocupação pelos investidores. “Como, por exemplo, a questão dos precatórios, a questão de um fundo para pagar precatórios, se esse fundo existirá e qual seria o desenho dele, se é que vai ele existir”, disse, citando também a reformulação do programa social.
Essas preocupações se refletem em custos mais elevados para rolagem da dívida pública, explicou. O efeito desse mercado doméstico mais volátil levou o Tesouro a reduzir volumes de emissões em agosto.
“Nós respeitamos as condições de mercado e, no que é possível, contribuímos para que o mercado encontre uma estabilidade, um certo equilíbrio nas taxas. E a gente evita que o leilão do Tesouro seja um fator adicional de volatilidade”, afirmou.
A expectativa é que os ruídos fiscais tenham desfecho no futuro próximo, disse. “Esse desfecho, certamente positivo, levará a um cenário mais tranquilo de mercado”, acrescentou.
Vital afirmou que o Tesouro Nacional vai continuar a respeitar as condições de mercado nas próximas emissões. À medida que o cenário retorne à normalidade, o Tesouro pode voltar com volumes normais e sistema tradicional de aviso dos leilões.
“Mas isso será analisado a cada leilão, a cada dia, de acordo com as condições de mercado”, afirmou. Diante de um contexto de maior volatilidade, o Tesouro reduziu em agosto o volume de emissões nos leilões tradicionais, bem como antecipou o horário da divulgação de algumas portarias de leilão, com os lotes de títulos ofertados.
Agosto está se mostrando um mês mais desafiador para emissões de pré-fixados e papéis atrelados a preços. “Isso se deve não a uma mudança de estratégia do Tesouro, mas de respeito às condições de mercado", disse.
Vital afirmou ainda que, ao longo dos próximos meses, há fatores que contribuirão para o aumento do colchão de liquidez, como devolução de recursos de bancos públicos.
Sobre a participação de estrangeiros na dívida, afirmou que o investidor não-residente aguarda avanços na agenda fiscal e de reformas, como tributária e administrativa. “Acreditamos que avanço na agenda fiscal vai atrair investidor estrangeiro de volta.”
Vital afirmou nesta quarta-feira (25) há pouco que a emissão líquida em julho, de R$ 24,37 bilhões, embora pequena na comparação com meses anteriores, foi a primeira para meses de julho desde 2009.
No acumulado ano, a emissão líquida está em cerca de R$ 180 bilhões. “Isso equivale a uma rolagem da dívida de quase 120%”, afirmou. Os vencimentos até julho foram maiores do que 2020 inteiro e mesmo assim há esse volume de emissão líquida acumulada, observou.
Vital explicou que o aumento do custo médio na dívida observado em julho reflete o impacto de indexadores, como a inflação e a alta da Selic. Já o aumento do custo de emissão refletiu a curva de juros mais alta e a piora nos indexadores.
Atualmente, a reserva de liquidez é suficiente para 9,6 meses de vencimentos da dívida, acrescentou. A reserva encerrou julho em R$ 1,159 trilhão, ante R$ 1,167 trilhão no mês anterior.
“Na janela de 12 meses à frente ainda temos a vencer R$ 1,210 trilhão. Ou seja, temos torres bastante significativas na janela de 12 meses”, afirmou, acrescentando que em setembro e outubro há R$ 500 bilhões vencendo em mercado. Assim, é esperado que ao longo dos próximos meses haja variações mais expressivas na reserva de liquidez.
Vital afirmou que julho foi um mês de volatilidade no mercado externo. Período um pouco mais negativo para emergentes, inclusive para o Brasil, explicou.
Houve preocupações em relação, por exemplo, à perspectiva para o crescimento econômico e em torno do avanço da variante delta da covid-19.
A curva de juros ganhou nível. A parte curta e a intermediária da curva reagiram principalmente a indicadores de inflação e ao ajuste na expectativa de investidores em relação à política monetária no Brasil. Já na ponta longa, as taxas já começam a refletir “um pouco de preocupação com trajetória fiscal”.
“Essa alta dos juros infelizmente foi capturada nos leilões do Tesouro”, acrescentou Vital.