Um trabalho para discussão feito por economistas do Banco Central mostra que, em algumas circunstâncias, baixas na taxa básica de juros podem ter efeitos significativos na desvalorização da taxa de câmbio.
Segundo as estimativas desse trabalho, uma surpresa de baixa de um ponto percentual na taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC leva a uma depreciação cambial de 3,4%.
O trabalho coloca mais um ingrediente na interminável polêmica entre economistas sobre o papel dos juros baixos dos últimos anos na fraqueza e volatilidade da taxa de câmbio.
Os economistas José Valentim Machado Vicente, Jaqueline Terra Moura Marins e Wagner Piazza Gaglianone examinam o impacto das surpresas das decisões do Copom sobre a taxa de câmbio. Isto é, se o mercado espera uma baixa de 0,5 ponto percentual da Selic, mas o BC faz uma baixa de 1,5 ponto, o que importa do ponto de vista da pesquisa é essa diferença de 1 ponto.
“Nosso estudo aponta para um efeito significante das decisões do Copom sobre taxa de juros no retorno da taxa de câmbio no Brasil”, concluem.
Mas, ao mesmo tempo, eles ponderam que mais recentemente, quando os juros nominais caíram a um dígito, o efeito das surpresas dos juros na taxa de câmbio se tornou menos significante. Segundo os autores, porém, o histórico estatístico desse período mais recente não é grande o suficiente para permitir conclusões definitivas.
A pesquisa, com o título “Impacts of the Monetary Policy Committee Decisions on the Foreign Exchange Rate in Brazil” (numa tradução livre, Impactos das decisões do Copom na taxa de câmbio no Brasil), foi publicada na página do BC na internet com a ressalva de que não reflete necessariamente a posição da autoridade monetária. Os três autores fazem parte do Departamento de Pesquisa Econômica (Depep) do BC.
O papel dos juros baixos sobre a taxa de câmbio tem sido um ponto de controvérsia mesmo na diretoria colegiada do Banco Central. Em março, o BC divulgou um estudo no Relatório de Inflação que investigou o papel dos juros e de outras variáveis na volatilidade do câmbio, que se tornou particularmente intensa a partir da pandemia.
A conclusão desse estudo anterior é que o diferencial de juros interno e externo explica uma parcela muito pequena dessa volatilidade. Outros fatores, como a popularização dos minicontratos de câmbio no Brasil e o aumento da volatilidade internacional, em particular das moedas dos países emergentes, explicam mais do comportamento da taxa de câmbio do real em relação ao dólar.
Quando essa pesquisa foi divulgada, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os resultados eram contraintuitivos e deveriam ser tomados com cautela, porque se tratava de uma pesquisa inicial.