Declarações em defesa da responsabilidade fiscal dadas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), amenizaram as preocupações dos investidores locais, proporcionando uma forte queima de prêmio de risco no câmbio e também em outros ativos domésticos nesta terça-feira. Contando ainda com um ambiente externo também favorável, o dólar voltou a operar abaixo de R$ 5,30 pela primeira vez em quase quatro semanas.
Após cair praticamente sem interrupção durante a primeira metade do pregão, o dólar acabou se acomodando e encerrou cotado a R$ 5,2616, baixa de 2,20% e perto da mínima intradiária de R$ 5,2481. Este foi o maior recuo diário desde a queda de 2,32% registrada em 31 de março. Naquela sessão, a moeda americana encerrou em R$ 5,6276.
O bom desempenho teve ainda a ajuda do exterior, onde uma nova lufada de otimismo nos mercados resultou na recuperação dos preços do minério de ferro e do petróleo, que acabaram carregando as bolsas asiáticas e as demais para cima. Ainda assim, a recuperação do real foi bem superior à observada pelos demais pares emergentes — sinal de que o alívio local foi preponderante. Em relação ao baht tailandês, segunda melhor divisa do dia, o dólar caía 1,10% no horário de fechamento do mercado de câmbio no Brasil.
A moeda americana já havia iniciado o dia em queda firme por aqui, mas este viés foi intensiicado após as declarações de Lira (PP-AL) em evento organizado pela XP, um comportamento também observado em outros mercados. O parlamentar, um dos principais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, afirmou que não houve “e não haverá”, por parte do Congresso, sinal de rompimento com a responsabilidade fiscal e que o Auxílio Brasil está precificado “dentro do teto”. Lira também afirmou que a reforma do Imposto de Renda ainda carece de negociação e não será colocada em pauta esta semana.
“Claramente [o movimento dos ativos locais] tem muito a ver com as falas do Lira. É o sinal que o mercado precisava de que os problemas do Brasil estão tentando ser resolvidos”, diz o analista técnico da Ativa Investimentos, Lucas Xavier.
Segundo Alfredo Menezes, sócio da Armor Capital, os comentários do presidente da Câmara compõem um conjunto de gestos no sentido de reduzir a fervura em Brasília, o que também ajuda a reduzir as incertezas e abre espaço para realização em alguns ativos. Por outro lado, apesar do alívio visto hoje, a cautela tende a persistir, avalia o profissional. “Acho que sempre vai ter o medo de como será o movimento em 7 de Setembro”, pondera, se referindo aos atos chamados em apoio ao presidente Jair Bolsonaro no feriado do Dia da Independência do Brasil.
O exterior mais propício ao risco e o alívio relativo à distensão das questões políticas locais ajudaram o risco-país medido pelo Credit Default Swap (CDS) do Brasil continuar em trajetória de queda. Após tocar 191 pontos na sexta-feira — o maior patamar desde 22 de abril ), o spread do contrato de cinco anos do contrato caía a 185 pontos no início da tarde de hoje.
Lá fora, também tem contribuído para tirar força do dólar esta semana um aparente arrefecimento das preocupações a respeito do que será apresentado pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira. Desde a divulgação da ata da última reunião BC americano, a moeda americana vinha se fortalecendo em meio ao receio de que uma redução do volume de compras do programa de ativos (QE, na sigla em inglês) pudesse ser anunciado já na edição deste ano do evento.
Para os profissionais da NatWest Markets, o evento trará apenas alguma elucidação adicional sobre quando e o que se espera para fazer o anúncio. “O discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, deve tocar em discussões relativas ao ‘taper’ que já foram abordadas na reunião de julho do Fomc. É possível que ele forneça mais informações sobre o que se considera ser ‘progresso substancial’ e também o que entende por ‘aviso com antecedência’. Temos trabalhado com a visão de que o Fomc irá fazer isso ao longo de suas reuniões oficiais”, dizem os analistas. O NatWest entende que o anúncio formal do ‘taper’ deve ser feito apenas em novembro e o início efetivo da redução do QE, em dezembro