O dólar comercial oscila entre leves quedas e altas no primeiro pregão desta semana, que tem como grande atrativo o simpósio anual de Jackson Hole. Enquanto aguardam uma possível confirmação da mudança de postura do Federal Reserve, investidores se ajustam ao noticiário local e também à melhora do apetite por risco no exterior, que vem se traduzindo em um dia positivo para a maior parte das divisas emergentes lá fora.
Por volta das 13h30, a moeda americana caía 0,05%, a R$ 5,3851, após tocar mínima de R$ 5,3455 e máxima de R$ 5,4015. No mesmo horário, o dólar cedia 0,11% contra o peso mexicano, 0,12% ante o rublo russo e 0,70% na comparação com o rand sul-africano.
Lá fora, a notícia de que a China não teve transmissão local de casos pela primeira vez desde julho ajudou o investidor global a espantar o mau humor que vinha sendo observado na semana passada. Com isso, os preços de commodities como o minério de ferro e petróleo voltaram a subir, beneficiando as bolsas asiáticas e europeias.
No Brasil, no entanto, esse alívio relativo é ponderado pelo ambiente local mais desafiador, nota um experiente profissional de mercado. Ele ressalta, por outro lado, que o dia ainda é de poucos negócios, algo comum dado a temporada de férias de verão o hemisfério Norte.
Outro fator que ajuda nesse clima de "compasso de espera" é a proximidade com o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira. "Todos os olhos estão em Jackson Hole", notam estrategistas do Brown Brothers Harriman. "Alguns esperam que Powell torne explícito o anúncio sobre o ‘taper’ [redução do ritmo de compras]. Caso isto não aconteça, pode haver alguma decepção entre participantes de mercado."
O receio de que um anúncio do tipo confirme a recuperação da moeda americana tem feito algum estrago em recomendações construtivas sobre moedas emergentes, incluindo o real. Recentemente, o Goldman Sachs encerrou sua recomendação em uma cesta de real e rublo russo contra o dólar. Agora, vê espaço apenas para trades relativos - agora sem a moeda brasileira.
"A dinâmica recente dos preços tem sublinhado a importância de complementar as escolhas certas no espectro emergente com escolhas apropriadas de funding. À medida em que nos aproximamos de Jackson Hole e da reunião de setembro do Fed, nos sentimos mais confortáveis em voltar a apostar no peso mexicano, no rublo e na rupia indonésia (onde o carrego é alto, a volatilidade baixa ou moderada e a perspectiva é de novas altas de juros) contra o dólar, euro e iene ou ainda contra moedas emergentes de baixo carrego e sem suporte da política monetária.”
A visão otimista sobre o dólar e negativa sobre o real também aparece nos modelos quantitativos do Morgan Stanley, que apontam a alocação para a divisa brasileira perto das mínimas históricas. "O real permanece como a moeda preferida para se assumir uma posição vendida [apostando na queda] em nosso modelo, em meio a valuations caros mesmo após a a rodada recente de depreciação", diz o banco americano. O rand sul-africano vem logo em seguida, acompanhado da lira turca, que também viu sua avaliação piorar desde a semana passada.