Após sequência de pregões tensos, os juros futuros se acomodaram em patamares ligeiramente mais modestos nesta quinta-feira (19). Mesmo em meio ao clima de aversão a risco no exterior e dúvidas persistentes acerca da saúde das contas públicas domésticas, as taxas de médio e longo prazo fecharam em baixa de cerca de 10 pontos-base (0,1 ponto percentual) contra o ajuste anterior.
Profissionais de mercado avaliam se tratar de um movimento de leve correção, discutindo se a forte implicação de prêmio de risco fiscal nos últimos dias foi exagerada.
Finalizado o pregão regular, o juro do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 6,72% no ajuste anterior para 6,735%, e o do DI para janeiro de 2023 caiu de 8,49% para 8,485%. Já o do contrato para janeiro de 2025 anotou baixa de 9,87% para 9,79% e o do DI para janeiro de 2027 foi de 10,32% para 10,24%.
Embora o dia tenha sido de acomodação das taxas, com algum alívio, o mercado continuou bastante atento às discussões fiscais e políticas e a volatilidade voltou a se fazer presente. Da mínima à máxima do dia, a taxa do DI para janeiro de 2025 oscilou 49 pontos-base e chegou a ultrapassar o nível de 10% logo no início do pregão. Cabe ressaltar que o Tesouro Nacional teve papel relevante, ao diminuir a oferta de prefixados e anunciar os volumes antes da abertura dos negócios, o que ajudou a acalmar a curva de juros.
“O mercado continua sem muitos parâmetros. A reforma do Imposto de Renda está sendo desidratada e o governo já indicou que vai focar na PEC dos Precatórios para abrir espaço para o Bolsa Família. O lado fiscal ruim se juntou à realização dos mercados emergentes, com a desaceleração da China. É um cenário clássico de aversão a risco, ainda mais com o aperto de liquidez do Federal Reserve (Fed). Tudo o que favoreceu emergentes virou e deixou o cenário volátil. Não acho que esse movimento acabe tão cedo, até porque 2022 é ano eleitoral”, diz um gestor.
O cenário fiscal, em especial, continua no foco dos participantes do mercado e as discussões em torno do pagamento dos precatórios, do Bolsa Família ampliado e da reforma do Imposto de Renda voltaram a pautar o segundo dia de reuniões dos economistas com o Banco Central. Além disso, os participantes revelaram preocupação com o cenário de atividade de 2022 e com o aperto das condições financeiras observado nos últimos dias.
Mais cedo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reforçou que a autoridade monetária “fará o que for necessário para atingir as metas de inflação”. Em webinar promovido pelo Council of the Americas, Campos afirmou que essa tarefa pode ser cumprida com os instrumentos à disposição do BC. Simultaneamente, ele manteve a visão cautelosa sobre a questão fiscal, ao pontuar que, apesar dos melhores números, “o ruído fiscal parece ser predominante”.
“O ruído fiscal existe e é grande. O governo tem feito algum esforço para tornar a situação ainda mais nebulosa e a eleição vem aí”, nota o gestor da BRDR Asset, Carlos Cardoso. “Mas os preços de hoje apontam para uma total ruptura fiscal, o que não está em jogo. O Brasil também não tem um histórico fiscal tão negativo assim que justifique um movimento dessa grandeza. Em um mundo de hoje, com juros extremamente baixos, esse juro longo está muito exagerado”, aponta. Nesse sentido, a BRDR tem uma posição aplicada (que aposta na queda das taxas) nos contratos de DI para janeiro de 2028 e janeiro de 2029.