Com os sucessivos choques e o movimento de dispersão da inflação, existe uma revisão de expectativas de curto prazo que começou a contaminar as mais longas, avaliou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. "A mensagem do BC é que vamos fazer o que for preciso para ancorar as expectativas e trazer a inflação para a meta", disse.
Campos Neto participou nesta quinta-feira de evento on-line da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). O presidente do BC lembrou ainda que grande parte da alta da inflação implícita na ponta mais longa da curva de juros "está muito ligada à questão fiscal".
O chefe da autoridade monetária apontou ainda os problemas hídricos e climáticos. "A crise hídrica gerou reprecificação de inflação no curto prazo", afirmou.
Conforme Campos Neto, "existe um entendimento do governo que é melhor ter energia mais cara do que enfrentar um racionamento". O agronegócio também enfrentou um rigor climático maior. "A gente teve ainda quebras de safra" por conta do frio.
Com o avanço da vacinação e a retomada gradual da economia, a autoridade tem monitorado os preços do setor de serviços. "O BC tem reconhecido esse aumento de inflação na parte de serviços." Para Campos Neto, "o momento é de choques sucessivos, onde a modelagem da inércia da inflação fica mais difícil, por isso a gente vê uma disparidade de projeções bem mais amplas".
Já a inflação global tem trazido surpresas constantes de alta, afirmou o presidente do BC. "Num primeiro momento, a gente vê surpresa na inflação de atacado [nas economias avançadas]", acrescentou. O Brasil, no entanto, "já passou por esse estágio, com a inflação de atacado atingindo um nível bastante alto".
Segundo o presidente do BC, "o mundo desenvolvido está tendo também esse efeito, que tem trazidos as inflações todas para cima". Um dos fatores, de acordo com Campos Neto, "foi em parte a migração de demanda de serviços para bens". Além disso, houve também um aumento de preços de commodities.
Campos Neto afirmou ainda que, apesar de urgente, a agenda de sustentabilidade tem implicações macrecoeconômicas ao longo do tempo. Segundo o chefe da autoridade monetária, os esforços por tornar as cadeias de produção mais limpas e o próprio aumento de demanda de materiais nos projetos sustentáveis já podem ser sentidos em preços de algumas commodities. "Temos falado há algum tempo sobre o 'green inflation'", afirmou.
Campos Neto enfatizou que, além de fomentar a sustentabilidade no setor financeiro, o BC também tem como papel monitorar as implicações de longo prazo da transição para uma economia de menos carbono. "Para manter o movimento de sustentabilidade é preciso, por exemplo, alumínio, cobre e níquel. As empresas precisam ainda ter produção limpa senão não consegue avançar na curva."
Conforme Campos Neto, já é possível ver preços desses metais subindo. "Isso está afetando produção e preços e vemos isso claramente no mercado de madeira", acrescentou. De acordo com o dirigente do BC, "é importante entender as implicações que isso gera" no longo prazo.