A bolsa brasileira é negociada em queda, com as incertezas fiscais e os ruídos políticos reduzindo o ímpeto do mercado doméstico. O Ibovespa chegou a cair mais de 1%, sendo negociado na faixa dos 120 mil pontos, com a renda variável acompanhando a piora dos demais ativos locais, em meio ao comportamento errático das ações de maior peso (blue chips) e das bolsas de Nova York. A safra de balanço também agita alguns papéis.
Perto das 13h, o Ibovespa caía 0,56%, aos 121.368 pontos, depois de cair até os 120.534 pontos, na mínima do dia. O índice à vista oscilou em alta indo aos 122.095 pontos, na máxima do dia. Já o dólar comercial subia 0,22%, cotado a R$ 5,2327, depois de ir até os R$ 5,2557, na máxima até então, enquanto o DI para janeiro de 2025 estava em 9,15%, de 9,21% na máxima e ante taxa de 9,08%, no ajuste anterior.
Para o sócio e responsável pela equipe de renda variável da Critéria Investimentos, Vitor Miziara, o cenário político continua trazendo desconforto. “O que mais está deixando o mercado estressado é a questão da PEC dos Precatórios”, afirma, citando o uso de “artifícios”, como a criação do “fundão” para incluir despesas fora dos “teto dos gastos”.
“A aprovação de algo do tipo vai estressar o mercado”, emenda Miziara. Ele também cita a falta de consenso para a votação da reforma do Imposto de Renda, que está sem data para ser apreciada. “Se não conseguir aprovar as reformas até setembro, não deve ter nenhuma reforma mais passando neste ano”, afirma o responsável de renda variável da Critéria.
O mecanismo que está em jogo na PEC dos Precatórios deve ser usado para a criação do programa de transferência de renda que irá substituir o Bolsa Família e que terá um valor mensal do benefício maior que o atual. “Essa ‘virada de jogo’ nos precatórios no meio do caminho deixa o investidor com o pé atrás”, emenda um operador sênior de renda variável de uma corretora nacional.
Segundo ele, ordens de stop loss (perda máxima aceitável) vêm sendo disparadas na bolsa, em meio ao aumento da aversão ao risco. O profissional, que falou sob a condição de não ser identificado, afirma que oito entre os dez maiores vendedores de bolsa hoje são instituições cujo perfil de cliente é estrangeiro. Ainda no horário acima, o volume financeiro na bolsa somava R$ 14 bilhões, projetando R$ 30 bilhões até o fim do dia.
Boa parte desse giro negociado é alocado nas blue chips, que alternam altas e baixas desde a abertura do pregão. Vale ON subia 0,41%, apesar da nova queda no preço do minério de ferro na China (Qingdao e Dalian), ao passo que Petrobras tinha altas de 0,78% e de 0,84% nas ON e PN, também na contramão das leves perdas do petróleo no exterior. Nos bancos, Itaú Unibanco PN oscilava em baixa de 0,26% e Bradesco PN cedia 0,98%.
Entre os destaques, Ultrapar ON perdia 12,28%, no topo do ranking de maiores quedas, em reação ao prejuízo líquido de R$ 31,1 milhões no segundo trimestre, com a última linha do balanço afetado pela baixa contábil de R$ 395 milhões pela venda da Extrafarma. Na sequência, estava Minerva ON (-9,05%), devolvendo parte da alta de quase 15% registrada durante o leilão de fechamento da sessão ontem, quando reagiu a rumores sobre possível fechamento de capital, porém já negado pelo frigorífico.
A temporada de balanços também agitava as ações: Via ON caía 6,99%, após o resultado “morno” no segundo trimestre deste ano, na análise da XP Investimentos. Na outra ponta, NotreDame Intermédica ON subia 5,41%, liderando o ranking de maiores altas, apesar do prejuízo líquido no segundo trimestre, prejudicado pela alta sinistralidade por causa da covid-19 e em meio à perspectiva de melhora nos próximos trimestres.
Hapvida ON (+4,80%), pegava carona na rival pelos mesmo motivos, apesar da queda de 62,5% no lucro do segundo trimestre. Entre as duas empresas do setor de saúde, estava Fleury ON, com +4,93%. Mais atrás, estavam RaiaDrogasil ON (+1,83%) e Americanas ON (+2,28%), reagindo à aquisição do Hortifruti Natural da Terra, por R$ 2,1 bilhões. Lojas Americanas PN vinha na sequência, com +2,17%