11/08/2021 às 20h00min - Atualizada em 11/08/2021 às 20h00min

Dólar fecha em alta, com investidor atento a cenário político e fiscal

Mesmo confrontado com um cenário externo mais favorável para as moedas emergentes nesta quarta-feira, o real voltou a sofrer com o cenário doméstico. Diante das incertezas políticas e fiscais que rondam a agenda legislativa e o relacionamento entre os poderes em Brasília, o investidor decidiu continuar apegado à proteção do dólar. Com isso, a moeda americana voltou a fechar novamente acima do patamar psicológico de R$ 5,20.

Assim, após tocar R$ 5,1641 na mínima intradiária, reagindo a um dado ligeiramente mais fraco que o esperado da inflação nos Estados Unidos, o dólar acabou abandonando a queda e fechando em alta de 0,48%, a R$ 5,2217. Na outra ponta, ele caiu 0,85% frente ao peso mexicano, 0,80% ante o rublo russo e 0,81% na comparação com o rand sul-africano.

Participantes de mercado não souberam precisar um motivo claro para o movimento do dia, mas foram unânimes em apontar o noticiário em Brasília, onde parlamentares discutem projetos importantes como a PEC dos precatórios. O projeto do governo incluiu um dispositivo que, segundo alguns analistas, praticamente inviabiliza a "regra de ouro". “Com a alteração prevista pela PEC, o governo poderá pular esta etapa desde que o gasto já conste no Orçamento, que também passa pelo crivo do Legislativo”, notam analistas da Guide Investimentos.

Outro ponto de atenção foi a nova versão do projeto de reforma do Imposto de Renda, que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretende colocar em votação ainda hoje. A versão apresentada esta madrugada pelo relator, deputado Celso Sabino (PSDB-PA) trouxe uma redução menor do IRPJ e também da CSLL. As mudanças tornam o projeto menos agressivo em termos de redução de carga tributária, diminuindo seus impactos fiscais — uma preocupação de analistas do mercado.

Mesmo o fracasso da PEC do voto impresso na noite de ontem, na Câmara, não tornou o tema um “assunto encerrado”, como gostaria o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Já pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro manteve o tom, em um indício de que pode continuar atuando para manter o tema - e os atritos que o acompanham - vivo. A apoiadores, o presidente afirmou que deputados que votaram a favor da PEC “não acreditam que o trabalho do TSE é confiável”. “Não tenho provas [de fraude], mas não me furto do meu direito de opinar”, emendou.

[Com a derrota da PEC], “Bolsonaro precisará confrontar uma decisão legislativa para continuar escalando o tom em relação ao voto impresso, elevando os riscos sobre a coalizão do governo e potencialmente deteriorando a perspectiva de aprovação de outras reformas estruturais e privatizações”, notam analistas do Citi.

Por fim, vale notar que mesmo o enfraquecimento do dólar no exterior pode ser um suspiro de curta duração. “Os mercados parecem ter se agarrado a esta oportunidade para vender dólar. No entanto, esta reação imediata deve evaporar, à medida em que dinâmicas ligadas ao diferencial de juros e a expectativa com o início do ‘taper’ [retirada dos estímulos] começarem a colocar pressão altista sobre as taxas americanas”, nota o TD Securities em relatório.

Diante de uma nova rodada de incertezas fiscais, instituições continuam revendo para cima suas projeções de câmbio para o fim do ano. Hoje, o BTG Pactual elevou de R$ 4,80 para R$ 5,00 sua perspectiva, com risco relevante de se encerrar com uma taxa ainda mais depreciada. Em especial, se a manobra representada pela PEC dos precatórios for levada a cabo.

Analistas do Commerzbank, por sua vez, ressaltam o bom desempenho relativo do real nos últimos pregões, na comparação com outras moedas emergentes. Tal fato seria, sobretudo, função de uma postura mais “corajosa” do Banco Central, que acelerou a intensidade das altas de juros.

“No entanto, o problema é que o BC não está lutando apenas contra os riscos inflacionários, mas também políticos e financeiros, que também pressionam o real. Por causa disso, nós mantemos uma postura cautelosa, presumindo que, no médio prazo, o real vai se beneficiar apenas moderadamente da alta da Selic”, diz o banco alemão.

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