11/08/2021 às 20h00min - Atualizada em 11/08/2021 às 20h00min

Pressão do eleitor bolsonarista ampliou placar a favor do voto impresso

A pressão do eleitorado de Jair Bolsonaro nas redes sociais fez com que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Voto Impresso atingisse 229 votos na Câmara dos Deputados na terça-feira, obtendo maioria mesmo em partidos em que os presidentes trabalharam contra o projeto e até fecharam questão sobre o tema. A despeito da adesão expressiva, a PEC foi derrotada, pois era necessário o apoio de ao menos 308 dos 513 deputados federais.

O movimento aliou uma posição já favorável ao voto impresso da maioria da Câmara, que em 2015 aprovou uma emenda idêntica por 433 votos a 7, à pressão de eleitores bolsonaristas, que foram bastante ativos também em mensagens diretas aos celulares dos deputados.

A proposta derrotada na terça-feira sugeria manter a urna eletrônica, mas com a impressão do comprovante do voto, que seria depositado numa urna para posterior checagem.

No entendimento de muitos deputados ouvidos pelo Valor, os contrários à PEC não estavam tão mobilizados nem se importavam tanto com essa votação, em contraste com a postura dos que eram a favor. Votar contra a proposta, nesse caso, poderia significar perder votos para a própria reeleição em 2022.

Um grupo de 11 partidos reuniu-se com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e, diante dos ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e ameaças de não realização das eleições, comprometeu-se a defender as urnas eletrônicas. Parte dessas legendas atuou de forma mais enfática, como Solidariedade, PL, PSD, PSDB e MDB, ajudando a derrotar a proposta na comissão especial.

No plenário, contudo, muitos desses partidos não conseguiram convencer seus parlamentares a derrotarem a PEC do Voto Impresso. No PSD, 20 deputados votaram a favor e 11 contra. No MDB, foram 15 favoráveis e 10 contrários. No DEM, 13 a favor e 8 contra. No PSDB, que fechou questão no dia anterior contra a PEC, 14 se manifestaram pela aprovação e 12 pela rejeição.

Presidente do PSDB no Rio Grande do Sul e aliado do governador Eduardo Leite, pré-candidato do partido à Presidência, o deputado Lucas Redecker afirmou que o próprio PSDB pautou esse debate em 2014 e que não tem desconfianças graves sobre as urnas eletrônicas, mas que melhorias em prol da transparência são positivas. “Não vejo o risco à democracia divulgado pela esquerda”, disse.

Na mesma linha, o deputado Célio Silveira (PSDB-GO) disse que acredita na lisura das urnas eletrônicas e que nunca viu indícios de fraudes nas muitas eleições que participou, mas afirmou que a proposta significaria uma segurança a mais para os eleitores. “Muita gente ligada a mim ligou e mandou mensagem pedindo para aprovar, eu não tinha como votar contra”, comentou.

O deputado Ruy Carneiro (PSDB-PE) disse que não é aliado do governo, tanto é que votou contra uma medida provisória (MP) analisada minutos antes da PEC, mas que fez um voto técnico. “Acho que o engajamento político do presidente foi o que derrotou um projeto que, do contrário, teria aprovação tranquila pela Câmara”, avaliou.

Mesmo deputados de oposição afirmaram que a pressão foi muito grande, principalmente sobre aqueles com muitos eleitores no interior, onde o bolsonarismo é mais forte e o discurso de fraudes ganhou corpo – embora o próprio presidente admita não ter provas do que diz. No PDT, seis deputados votaram pela aprovação da proposta. No PSB, 11.

Apesar da derrota, aliados de Bolsonaro no Congresso querem manter a temperatura alta para manter a militância mobilizada. Com 229 votos, esses deputados divulgaram a versão de que “perderam ganhando” e tentarão pressionar o Senado, onde dormita há anos a PEC aprovada pela Câmara em 2015. Em declaração a jornalistas nesta quarta-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse considerar o assunto “resolvido”.

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