Maior rede de farmácias do país, a Raia Drogasil (RD) vê uma “volta progressiva” de tráfego de clientes, que, embora não seja acompanhada pelo aumento do valor médio por venda, “no fim deixa um residual positivo”, nas palavras do vice-presidente de planejamento corporativo e relações com investidores, Eugênio De Zagottis.
Em teleconferência de resultados do segundo trimestre, o presidente da companhia, Marcílio Pousada, disse que o volume de vendas do grupo hoje “não tem nada de excepcional, está normal”.
Segundo a Raia Drogasil, a aceleração nas vendas virá cada vez mais de uma integração da operação on-line com a das lojas físicas. A respeito disso, a empresa deu amis detalhes nesta quarta-feira, relatando dados sobre a estratégia do “marketplace” e dos seus aplicativos próprios.
A RD disse ainda que terminará ano com lojas em todos os Estados do Brasil, por conta de seu plano de entrar no Acre, Roraima e Amapá.
A companhia mantém a projeção de 240 aberturas em 2021 e mais 240 em 2022. Atualmente são 2,3 mil unidades no país. Segundo trimestre, foram 62 aberturas e 7 fechamentos. Como base de comparação, cadeias líderes regionais têm aberto de 50 a 100 lojas por ano.
Apesar da manutenção nesse ritmo – o mesmo dos últimos anos – a Raia Drogasil entende que não há risco de canibalização de lojas, como ocorreu em 2018.
“No sul, onde abrimos já muitas lojas, e há ‘players’ listados [na B3] e não listados, pode ser que lá se volte a 2018, mas isso é menos de 10% para nós, e para eles, é 100% [da venda]. Então, para nós pesa menos. Não há nada de efeito sistêmico que se possa temer [com essas inaugurações aceleradas no setor]”, disse Zagottis.
Em 2018, aberturas de várias cadeias por anos seguidos afetaram rentabilidade e a RD também sentiu essa pressão em algumas regiões.
Em termos de expansão de aberturas, o vice-presidente afirmou que o mercado de São Paulo continua “vigoroso”, mas há avanço em outras regiões e projetos de abertura mais acelerada, por exemplo, no Sul – apesar da competição mais forte.
“O Rio Grande do Sul, por exemplo, ainda tem metade das lojas que temos no Paraná”, afirmou Zagottis.
Sobre desempenho geral, a companhia informou que a margem bruta se beneficiou do reajuste de medicamentos anual promovido em abril, mas que esse índice deve cair.
“O aumento de preço gera ganho inflacionário nos estoques, mas o desafio são os próximos trimestres. Esse nível de estoque de 80 dias como tivemos em 2020 não deve se repetir, era algo fora da curva numa situação pontual e devemos voltar a estoques normais”, disse Zagottis. A margem bruta foi de 28,8% de abril a junho, alta de 0,8 ponto.
Em termos de despesas operacionais, Pousada e Zagottis reforçaram que haverá, como já ocorre, pressão maior por causa dos maiores gastos com a operação digital, como em tecnologia, em áreas em que há impacto na linha de despesas com vendas, gerais e administrativas. Em pessoal de tecnologia, são 1 mil pessoas hoje, contra 400 um ano atrás
Mas esse ponto não é visto como fator de preocupação, apesar dos efeitos possíveis em rentabilidade a curto prazo, na visão de analistas.
“Houve um incremento de 0,4 ponto percentual em despesas relacionadas à tecnologia, que inclui equipes de suporte, infraestrutura serviços de terceiros, entre outras, de abril a junho, e isso limitou a diluição das despesas gerais e administrativas. Mas não vamos sair do nada, para montar algo do zero, sem gastar. Então, podemos ter pressão em margem trimestral e anual. Nós não nos seguimos por essas questões de curto prazo. Vamos gastar o que precisará ser gasto”, disse Zagottis.
Ele afirmou que, pensando nisso, a empresa vem destacando mais nos materiais a margem de contribuição trimestral, que é a margem bruta menos as despesas com vendas, para informar um indicador que dê uma visão sem considerar esse peso maior desses gastos.
“Isso é necessário para que a rede possa se transformar, seguindo o plano estratégico que divulgamos a vocês meses atrás, baseado em três pilares”, disse Pousada.
Esse pilares, apresentados ao mercado em 2020, e que guiam o projeto da empresa nos próximos anos, são: a “Nova Farmácia”, que combina um hub de saúde com experiência digital, o marketplace e uma plataforma nova que promova ações de saúda, integrada às lojas.