O cabo de guerra entre um cenário externo negativo para commodities e um noticiário local um pouco mais tranquilo em relação aos recentes ruídos fiscais terminou com o Ibovespa fechando o dia em leve alta e recuperando o patamar dos 123 mil pontos. Analistas apontam que, apesar da contínua tensão em Brasília acerca da trajetória das contas públicas, as empresas vêm apresentando resultados robustos, o que ainda garante algum otimismo para as ações locais.
O Ibovespa encerrou o pregão em alta de 0,17%, aos 123.019,38 pontos, em um dia de baixa oscilação no mercado local. Nas máximas, o índice subiu aos 123.597 e, nas mínimas do dia, caiu aos 122.258 pontos. O giro financeiro foi de R$ 18,5 bilhões.
A rápida disseminação da variante delta na China segue preocupando os investidores globais e os temores ficaram novamente refletidos nos preços das commodities neste início de semana. A referência global do petróleo Brent recuou 2,34%, aos US$ 69,04 o barril e, na Bolsa de Commodity de Dalian, os contratos mais negociados do minério recuaram 5,30%, terminando o dia nas mínimas desde abril.
Assim, as ações de companhias siderúrgicas e de empresas ligadas ao petróleo foram negociadas em baixa ao longo do dia e fecharam o pregão em queda. A Vale ON caiu 0,63%, enquanto os papéis ordináiros da Petrobras tiveram desvalorização de 1,06%.
"Há preocupações em relação à demanda por commodities, o que ficou refletido nos preços hoje. Além disso, há temores em relação à China e o mercado começa a esperar algum tipo de estímulo por parte do banco central de lá, seja via corte de compulsórios ou alguma outra ferramenta de política monetária", afirma o estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura.
Em contraposição ao cenário externo menos favorável hoje, os investidores locais reagiram com algum alívio aos comentários do ministro da Cidadania, João Roma, que garantiu que o novo benefício social, substituto do Bolsa Família, ficará dentro do teto de gastos. Ele confirmou que o programa será reajustado em pelo menos 50%, como prometeu o presidente Jair Bolsonaro, mas não especificou o valor do benefício.
Também hoje, Bolsonaro entregou ao Congresso a proposta de emenda constitucional (PEC) que permite o parcelamento dos precatórios e a medida provisória (MP) do programa que substituirá o Bolsa Família.
Segundo o analista da Levante Ideias de Investimentos Enrico Cozzolino os negócios domésticos se dividiram entre o otimismo oriundo dos fundamentos corporativos, com empresas reportando resultados sólidos, e cautela com os riscos políticos e fiscais em Brasília. "Até me espantou que não houve uma reação mais negativa dos mercados ao noticiário fiscal. Acho que os investidores já vinham precificando bem o cenário ao longo dos últimos dias", afirmou Cozzolino.
Segundo ele, ainda que o benefício seja importante para o país, a comunicação errática do governo e a constante alteração de valores e prazos diminuem a confiança do mercado. "Acho que é marginalmente ruim pela incerteza de como o processo ocorre. E o investidor local pode até estar mais acostumado, mas o gringo olha para tudo isso de forma negativa", afirmou.
Mesmo assim, o profissional sustenta uma visão positiva para a apreciação das ações locais, já que as empresas vêm entregando resultados acima das expectativas. "Seja por base de comparação fraca, seja, de fato, por um cenário de retomada mais forte, as incertezas sobre as empresas estão sendo sanadas pelos resultados positivos e isso deve trazer um viés positivo para a semana", conclui.
Hoje, bancos contribuíram para a alta do Ibovespa, com destaque para as ações do BTG Pactual, que subiram 3,92%, na véspera da divulgação do balanço da instituição. Na esteira dos ganhos setoriais, os papéis PN do Itaú fecharam em alta de 1,17%.
"O mercado já antecipa resultados da Pactual que terá seus dados divulgados amanhã. O que vemos hoje é o mercado antecipando balanços corporativos, comprando antes e vendendo após os resultados, esperando que as empresas vão divulgar bons números", afirmou Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.
Outro setor de destaque foi o de frigoríficos, que também avançou na expectativa de bons resultados corporativos. As ações da Minerva ON, que divulga seus lucros após o fechamento dos mercados, subiram 4%, enquanto os papéis da Marfrig ON, que reporta números amanhã, avançaram 3,66%.