09/08/2021 às 15h00min - Atualizada em 09/08/2021 às 15h00min

Mau humor no exterior se soma a cautela local e dólar encosta em R$ 5,30

O sinal externo negativo importado dos mercados globais mantém na defensiva o investidor doméstico, já em alerta com o cenário político e fiscal local. Como resultado, a moeda americana volta a subir firme e se aproximar dos R$ 5,30 nesta segunda-feira, mesmo diante de uma perspectiva de Selic mais alta no Brasil.

Por volta das 13h30, o dólar avançava 0,73%, a R$ 5,2739, após máxima do dia de R$ 5,2989. No mesmo horário, a moeda americana avançava contra o rand sul-africano, frente à lira turca e contra o rublo russo.

"O vetor hoje é principalmente externo, já que não houve nenhuma grande novidade local. Preocupações com a variante delta e dados de balança comercial da China piores que o esperado, o que acaba puxando para baixo preços de commodities e o real, assim como outras moedas emergentes de forte correlação", diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Mizuho no Brasil. "Além disso, por causa da agenda fraca, o payroll [relatório sobre o mercado de trabalho americano] da sexta-feira continua ecoando, levantando preocupações de que o Federal Reserve possa retirar estímulos mais cedo que o esperado."

Ainda segundo Rostagno, o que ajuda a moderar esse movimento é a perspectiva de uma Selic mais alta no fim do ano - na pesquisa Focus desta segunda-feira, o ponto médio para o juro para básico no fim de 2021 passou de 7% para 7,25%.

Ainda que em segundo plano, as questões domésticas continuam no radar. Nesta segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que o novo auxílio que substituirá o Bolsa Família deve ter aumento médio de 50% em relação ao benefício pago atualmente.

Já o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que o valor exato do reajuste não está definido e será apresentado somente no fim de setembro, após a votação da Lei de Diretrizes Básicas (LDO). Ele disse ainda que o benefício será alcançado dentro do teto de gastos e que é "imperioso" que PEC dos precatórios andem em paralelo.

"Incertezas quanto ao futuro das contas públicas do Brasil. A reforma tributária, que em tese viria para simplificar a burocracia relacionada ao pagamento de impostos e reduzir a regressividade nociva às boas práticas de distribuição de renda, pode diminuir a capacidade arrecadatória do governo caso a atividade econômica futura não tome direção expansionista, o que não necessariamente acontecerá, dada a debilitada capacidade de investimento do Estado Brasileiro e as sequelas deixadas pela crise sanitária da covid-19. Além disso, o Poder Executivo objetiva reformular o programa Bolsa Família, buscando inclui entre 1,5 e 5,5 milhões de famílias e elevar o benefício entre 50% e 100%”, diz o BTG Digital em relatório mensal de câmbio. “Neste momento, o mercado entende que o teto de gastos do governo está ameaçado e não está hesitando em aumentar as proteções nos portfólios, que, em parte, são feitas em dólar.”

“Postas estas questões, os fatores tanto internacionais como nacionais, neste momento, nos impedem de afirmar que o cenário base é uma cotação do real abaixo de R$ 5,00, mas ainda entendemos que a retomada da economia no segundo semestre a partir do célere ritmo de vacinação e as elevadas exportações brasileiras devem valorizar o real até o final deste ano.”

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