A bolsa brasileira tem uma sessão de cabo-de-guerra puxada, de uma lado, pela queda nas ações da Vale e da Petrobras. De outro, os ganhos dos bancos tentam sustentar o Ibovespa no campo positivo. No meio do caminho, as bolsas em Nova York alternam altas e baixas, sem uma direção definida para o dia. Como pano de fundo, os investidores estão preocupados quanto ao início da retirada dos estímulos pelo Federal Reserve, ao mesmo tempo em que monitoram a rápida disseminação da variante delta do coronavírus pelo mundo. Por aqui, a cena política local também pede cautela.
Pouco depois de 14h50, o Ibovespa avançava 0,54%, para 123.468 pontos, após máxima em 123.597 pontos e mínima em 122.258 pontos.
Na ponta positiva, os bancos dão sustentação ao índice, com altas de 1,65% nas ações PN do Itaú e 1,10% nas PN do Bradesco e, do lado negativo, a Vale ON cedia 0,72% e as ações ON da Petrobras recuavam 1,10% enquanto as PN perdiam 1,13%, pressionadas pela queda nos preços das commodities nos mercados internacionais.
Segundo o analista da Levante Ideias de Investimentos Enrico Cozzolino os negócios domésticos se dividem entre o otimismo oriundo dos fundamentos corporativos, com empresas reportando resultados sólidos, e cautela com os riscos políticos e fiscais que se avolumam em Brasília.
Após uma série de ruídos na semana passada, hoje, o presidente Jair Bolsonaro entregou ao Congresso a proposta de emenda constitucional (PEC) que permite o parcelamento dos precatórios e a medida provisória (MP) do programa que substituirá o Bolsa Família. Ele voltou a dizer que o novo auxílio deve ter aumento médio de 50% em relação ao benefício pago atualmente.
Já o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que o valor exato do reajuste não está definido e será apresentado somente no fim de setembro, após a votação da Lei de Diretrizes Básicas (LDO). Roma afirmou ainda que o benefício será alcançado dentro do teto de gastos e que é "imperioso" que PEC dos precatórios andem em paralelo.
"Até me espantou que não houve uma reação mais negativa dos mercados. Acho que os investidores já vinham precificando bem o cenário ao longo dos últimos dias", afirmou Cozzolino.
Segundo ele, ainda que o benefício seja importante para o país, a comunicação errática do governo e a constante alteração de valores e prazos diminuem a confiança do mercado. "Acho que é marginalmente ruim pela incerteza de como o processo ocorre. E o investidor local pode até estar mais acostumado, mas o gringo olha para tudo isso de forma negativa", afirmou.
Mesmo assim, o profissional sustenta uma visão positiva para a apreciação das ações locais até o fim do ano, já que as empresas vêm entregando resultados acima das expectativas. "Seja por base de comparação fraca, seja, de fato, por um cenário de retomada mais forte, as incertezas sobre as empresas estão sendo sanadas pelos resultados positivos e isso deve trazer um viés positivo para a semana", conclui.