29/03/2022 às 10h36min - Atualizada em 29/03/2022 às 10h36min

Dólar impacta negócios com grãos e carne bovina

Uma realidade mais alinhada com os aspectos internos da economia brasileira. A primeira frase deste artigo resume um pouco da última semana de negócios com boi gordo no país e, também, a provável tendência dos próximos períodos. O Dólar perdeu muito a força, há muita entrada de recursos financeiros do estrangeiro no Brasil (temos uma das maiores taxas de juros do mundo), fator que traz fortes alternâncias na composição de preços de commodities por aqui. Há também o velho elemento de baixo poder de compra da população brasileira, refletida diretamente no mercado atacadista de carnes e, consequentemente, no varejo e produção. 

É evidente que tenho escrito por aqui há muitos meses sobre a relevância do poder de compra da população brasileira (ou a falta dele) para cadeia produtiva da carne bovina. E, no final do mês, o cenário fica literalmente pior. Por isso, vou começar pelo Dólar e seus impactos na carne bovina e outras commodities. 

Vou destacar algumas perguntas que tenho recebido via mídias sociais na última semana. 

O primeiro ponto a ser aportado é o Dólar. O Real mais valorizado, mais forte, tira um pouco da competitividade da carne bovina brasileira no mercado internacional? Quase nada… Neste caso, a necessidade de demanda fala bem mais alto que o reposicionamento de moeda. 

A indústria exportadora fatura menos? Em Reais, sim. Entretanto, os contratos, proteções e modelos de negócios garantem resultados atraentes.

O Dólar vai cair mais? É provável que sim. Para ser bem sincero, se não fosse a guerra com a invasão russa no território ucraniano, poderíamos estar vendo um dólar já abaixo de R$ 4,50. É uma queda brusca? Sim, para quem viu nestes últimos anos uma moeda norte-americana estabilizada acima de R$ 5.

Só para destacar minha resposta lá em cima. É provável SIM de novos recuos para o Dólar no Brasil, mas não é uma garantia, principalmente em um ano eleitoral. Falo ser provável a valorização do Real frente ao Dólar, por conta da forte entrada de capital estrangeiro no país, o chamado capital especulativo busca uma melhor remuneração com uma taxa básica de juros em 11,75% (tendência de novas altas e pode chegar próximo aos 14%). Além disso, o preço das commodities estão com preços disparados no cenário internacional e o Brasil é um grande player, elemento que torna ainda mais atraente para aplicações estrangeiras por aqui. O resultado disso é um primeiro trimestre que nem acabou ainda (artigo escrito em 26 de março 2022) com entrada de capital estrangeiro de US$ 87 bilhões. 

O dólar é uma espécie de condutor, em uma das pontas está a exportação de carne bovina, como destacado um pouco antes. Do outro lado, temos o mercado de grãos. Soja e milho ressentem a baixa na moeda norte-americana. Soja, permanece com preços históricos na Bolsa de Chicago, o mais curto prazo está em torno de US$ 17 por bushel, os prêmios pagos nos portos são os mesmos, mas o valor recuou cerca de R$ 10 na última semana.

No caso do milho, o Dólar baixo tirou a competitividade de exportação e o cereal derreteu na B3 e no mercado físico. É possível afirmar que o milho voltou para seus fundamentos, a segunda safra deve ser cheia, foi semeada (70%) dentro da janela ideal e está chovendo bem. Milho tem que cair. O que segurou foi a guerra combinada com Dólar alto.

Dito isso, o mercado doméstico para carne bovina segue enfraquecido, as exportações seguem em alta, contudo, a indústria frigorífica consegue neste momento manter uma escala média de oito dias no País e exercer pressão nos preços, em movimento típico de final de mês.


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