17/01/2022 às 09h44min - Atualizada em 17/01/2022 às 09h44min

Produção de gases do efeito estufa pela ação do homem potencializa os danos dos ciclos climáticos naturais

Após os acontecimentos climáticos catastróficos em 2021 na maior parte do Planeta, é fácil e primário, mas absolutamente equivocado, atribuir os desastres e perdas de toda ordem apenas à ação do homem na natureza. Os eventos que provocam o aquecimento global, somam-se aos fenômenos naturais e cíclicos que moldam o padrão do clima, tanto no hemisfério Norte quanto no Sul, há milênios.

Há dois anos que os meteorologistas dos principais institutos de pesquisa do clima no mundo vinham alertando para a iminente chegada do fenômeno La Ninã. Ao contrário do que nós brasileiros acreditamos, tanto o La Niña quanto o La Niño, desestabilizam regularmente o clima desde a Oceania, à América Latina, do Norte e Europa.

O que assistimos, portanto, é a conjunção dos fenômenos naturais e cíclicos aliados à ação do homem, que provoca o aumento dos gases do efeito estufa com a matriz enérgica suja nas grandes economias e o desmatamento desenfreado das florestas remanescentes ainda em pé em vários países, principalmente, no Brasil, e seus vizinhos que abrigam parte da floresta amazônica.

Para entender os acontecimentos, precisamos saber exatamente o que é a La Ninã e o La Niño. Os fenômenos são provocados pelos Enos (em português, ventos) alísios. No La Ninã, eles resfriam as águas do Oceano Pacífico, próximas da Austrália e da Indonésia, deslocando massas de ar frio em grandes altitudes e de alta pressão. Elas se deslocam de Oeste para Leste e se acumulam nas regiões equatoriais próximas à Colômbia, Peru e Equador. São trazidas para o continente, provocando chuvas e tempestades em algumas partes, assim como secas severas e persistentes em outras.

Com o La Niño, ocorre justamente o oposto. As águas se aquecem na mesma região do Pacífico, e os ventos alísios, desta vez de Leste para Oeste, que também deslocam massas de ar (desta vez, quentes) para a mesma região equatorial do Pacífico, de baixa pressão e baixas altitudes, que também adentram no continente sul-americano, provocando a desestabilização total do padrão cíclico do clima.

Os dois fenômenos geralmente acontecem em intervalos de 4 em 4 anos. Mas não é uma regra matemática. Outro detalhe interessante é que as maiores catástrofes se dão exatamente quando eles são considerados pelos especialistas como “moderados”. Quando eles são considerados intensos, provocam um efeito moderado nas chuvas e secas.

Os nomes dos dois fenômenos estão ligados ao período em que eles começam. Sempre próximos ao Natal. Por isso, o nome niño (menino) em referência ao nascimento do menino Jesus.

Meteorologistas sabem quando esses fenômenos estão a caminho, monitorando ininterruptamente as temperaturas, velocidade, altitudes e direção dos ventos da superfície do Pacífico equatorial. Começam com anomalias térmicas na maior parte do Oceano Pacífico central e oriental, anomalias nos ventos de leste em níveis baixos e nos ventos de oeste nos níveis superiores da atmosfera. Há dois anos que o instituto climático Administração Nacional e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) alerta governos sobre o que a La Niña poderia provocar em 2021.

Via de regra, o La Niño acaba em chuvas intensas no Sul do país e bem mais moderadas no Norte e Nordeste brasileiros. No La Ninã, o oposto. Temo secas severas na região Sul da América e chuvas torrenciais no Norte e Nordeste. É o que aconteceu em 2021 e que deve se estender até a Primavera de 2022, segundo cientistas meteorológicos.

Nas Américas, o fenômeno desestabiliza os padrões climáticos nas três regiões. Sul, Central e do Norte. Chuvas, tempestades, furacões. Causam prejuízos à agricultura, aumentam a vazão repentina em rios que invadem cidades e causam destruição por onde passam. No campo, quebra as principais safras e prejudicam as cadeias produtivas do agronegócio. O La Ninã, na Colômbia, Equador e Norte do Brasil traz chuvas intensas. No Peru, Bolívia, Argentina, Paraguai, Sul do Brasil e Chile, secas severas. Pior: meteorologistas cravam que 2022 será um ano anda mais quente e seco.

Na América do Norte em 2021 assistimos furações e ciclones provocados pela La Niña cuja violência e capacidade de destruição e morte nunca foram registrados. Nevascas intensas no Norte dos Estados Unidos que chegam às ilhas da Oceania. Atingem regiões pontuais da Austrália e em dezenas de ilhas. Na Europa, em 2021 as temperaturas elevadas ultrapassaram os 40º em vários países e, na sequência, nevascas que também levou a muitas mortes.

Então, diante de fenômenos climáticos naturais e padrões cíclicos, os negacionistas do aquecimento global podem cantar vitória? Muito pelo contrário. As manifestações virulentas da ação dos dois fenômenos estão sendo potencializadas e impulsionados pela ação do homem com a utilização de combustíveis fósseis que dispersam gases que aquecem a atmosfera e ficam presos como o vapor quente em uma panela de pressão. O Brasil, que tem matriz enérgica majoritariamente limpa, mas contribui para a desestabilização ao desmatar, eliminando o filtro natural que retira tais gases da atmosfera, aprisionando-os na biomassa das florestas.

Os ciclos climáticos não se alinham a ideologias fundamentalistas que negam a ciência por interesses políticos e muito menos econômicos. Lobistas das grandes petroleiras foram na COP 26, Conferência do Clima em Glasgow, na Escócia, realizada em 2021, sem qualquer pudor ou estudo científico, para evitar a limitação do uso do petróleo como combustível. O contraponto se deu com milhares de jovens preocupados com o que futuro lhes reserva. Petroleiras não queriam nem mesmo que eles fossem citados nos documentos finais da ONU. O negacionismo sempre está ligado a interesses diversos de grupos que se beneficiam em detrimento da maioria da população mundial. Aparentemente perderam. Apenas as ações das nações que se comprometeram em reverter a situação é que vão dizer.

Estudos científicos indicam que a ação do homem, e não padrões cíclicos milenares, estão alterando o clima. Com La Ninã ou sem ela, meteorologistas afirmam que impedir que o Planeta se aqueça entre 1,5º a 2º até 2100 já não será mais possível. Estudos independentes indicam que a temperatura média dos últimos 100 anos já aumentou 1,2º, e falam que chegaremos em 2100 com 2,8º acima da média. Os fenômenos climáticos naturais, que atuam com regularidade, não acontecem para elevar temperaturas e muito menos para mudar padrões e ciclos climáticos. São regulares há milênios e nunca antes alteram definitivamente as temperaturas.

Meteorologistas acreditam que o homem está criando novos ciclos e padrões, sem saber para onde estamos indo. Não temos a mínima noção do que virá. Mas não será bom para a vida como a conhecemos. Se nada for realmente feito, a terra vai ser um lugar bem diferente do que conhecemos hoje.

Embora o assunto não transborde para uma discussão ampla na população leiga na maioria dos países, a situação é tão dramática que neste ano teremos uma Conferência da Biodiversidade, espécie de braço da Conferência do Clima, desta vez na China, para discutir o desaparecimento em massa de espécies da fauna e da flora tanto na terra como no bioma marinho. Além de discutir políticas que vão tentar mitigar a catástrofe. Na verdade, perdemos o timing. Os interesses inconfessáveis, se impuseram sobre a racionalidade.

Relatório preliminar da Organização Mundial de Meteorologia (WMO) indica que 2021 foi o ano com as temperaturas mais extremas da Era Contemporânea. Prevê-se que 2022 será ainda mais quente.


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