O dólar comercial e os juros futuros iniciaram os negócios desta sexta-feira em alta, refletindo o aumento dos riscos político e fiscal do cenário doméstico.
Pouco antes de 10h15, a moeda americana avançava para R$ 5,2314, aumento de 0,34%, após máxima a R$ 5,2750. O movimento acompanha a valorização do dólar no mercado internacional e é intensificado pela escalada de tensão entre o Executivo e o Judiciário, bem como pelo noticiário recente mais negativo em torno das contas públicas.
Nos juros, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subia de 6,47% no ajuste anterior para 6,475%; a do DI para janeiro de 2023 avançava de 8,17% para 8,24%; a do contrato para janeiro de 2025 disparava de 9,08% para 9,18% e a do DI para janeiro de 2027 escalava de 9,39% para 9,52%.
A Commcor aponta que os temores fiscal e institucional estão colocando nos investidores uma maior aversão aos ativos de risco do país”.
“A iniciativa de reformulação do Bolsa Família, a alta dos pagamentos dos precatórios para R$ 90 bilhões em 2022 e, mais recentemente, a aprovação pelo Senado do Refis colocaram em xeque o cumprimento do teto de gastos”, avalia a corretora. “Adicionalmente, temores a respeito de uma crise institucional se intensificaram após o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, cancelar reunião entre os três Poderes e citar ataques de Jair Bolsonaro a ministros do Supremo Tribunal Federal.”
O movimento desta manhã em câmbio e juros futuros reflete, assim, a alta que foi vista nesses mercados na sessão estendida, em reação à decisão de Fux. O magistrado respondeu com o cancelamento do encontro aos ataques de Bolsonaro a ministros do tribunal, após a inclusão do presidente no inquérito das fake news pelo magistrado Alexandre de Moraes com base em críticas dele às urnas eletrônicas e ameaça às eleições.
A agenda de indicadores também contribui para explicar o desempenho dos ativos locais. O relatório de empregos dos Estados Unidos (“payroll”) referente ao mês de julho fortaleceu o dólar no exterior.
No sétimo mês de 2021, os EUA criaram 943 mil vagas de trabalho, muito acima da expectativa de 845 mil de alguns economistas. A leitura é fundamental para detalhar o estado da retomada do mercado de trabalho, vista pelo presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, como ainda longe do progresso que a autoridade monetária pretende que seja alcançado.
Assim, o dado de hoje pode influenciar a direção e a velocidade do processo de normalização monetária nos EUA daqui para frente, aumentando também as expectativas de agentes financeiros para um eventual anúncio do Fed detalhando o “tapering” (processo de redução da compra de ativos) no simpósio econômico de Jackson Hole, no fim do mês.