A presidente da AES Brasil, Clarissa Sadock, espera um aumento do risco hidrológico (GSF, no jargão do setor) para 2022. “Temos um ano de 2021 com uma hidrologia bastante adversa, que vai levar os reservatórios para níveis muito baixos no início do período úmido. Independentemente da hidrologia de 2022, é esperado um GSF um pouco mais estressado, para que os reservatórios possam ser recuperados”, avaliou a executiva, durante teleconferência de resultados nesta quinta-feira (5).
“O período hídrico vai ser muito importante, podemos ter mais de um cenário de GSF. Mas de qualquer maneira, a expectativa é de preço [da energia] mais alto para o ano que vem.”
Clarissa ressaltou que, antevendo essa situação, a geradora já antecipou compras de energia para reduzir o nível de contratação de seus ativos hídricos, evitando exposição ao mercado de curto prazo.
Para este ano, a AES Brasil tem um nível de contratação hídrico de 78% e já zerou sua posição “short” (deficitária), estando em uma “situação confortável” para o segundo semestre, disse. Já para 2022, o nível de contratação baixou para 80%.
Conforme divulgado na quarta (4), junto com dos dados financeiros do segundo trimestre, a gestão ativa do portfólio para mitigar os impactos da hidrologia evitou um custo de R$ 190 milhões à AES Brasil neste ano.
Ainda na teleconferência, a executiva disse não enxergar risco de racionamento de energia para este ano.
“Não vemos esse risco, vemos o reservatório estressado, chegando a patamares bastante baixos no início do período chuvoso. O ONS vem fazendo várias manobras, tem uma operação bem ativa sendo feita.”
A presidente da AES Brasil disse também que a companhia está acompanhando a situação do mercado de comercialização de energia, que pode enfrentar uma nova crise.
“Estamos acompanhando essa questão de perto, sempre que os preços estressam é uma preocupação. Temos notícia de duas comercializadoras menores que poderiam ter algum tipo de problema, não temos contratos com elas, sem ter hoje uma preocupação de risco sistêmico”, afirmou Clarissa.
Como mostrou o Valor, fontes afirmam que as comercializadoras Brasil e Argon têm avisado informalmente suas contrapartes que estão com dificuldades para cumprir obrigações contratuais. Se confirmado, o problema tem potencial para gerar prejuízo elevado — no mercado, há quem fale em até R$ 600 milhões. Procuradas, as empresas negam a situação, sustentando que não enviaram avisos do tipo a clientes.
Diante dos rumores crescentes, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) solicitou, nesta semana, à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) informações sobre sete comercializadoras: Argon, Brasil, Compass, Delta, Electra, MX Energy e Zeta.
Em ofício, o diretor Efrain Pereira da Cruz pede que a CCEE envie “todas as informações disponíveis a respeito de todos os contratos de comercialização de energia elétrica registrados na Câmara entre janeiro de 2020 e julho de 2021” por essas sete comercializadoras, “além de eventuais outras comercializadoras a respeito das quais a CCEE tenha conhecimento de indícios de possibilidade de inadimplência elevada, ou que, por qualquer motivo, a Câmara entenda que represente risco acentuado ao mercado”.
A AES Brasil informou ainda nesta quinta que está avançando com as obras do complexo eólico Tucano, localizado na Bahia. Segundo a companhia, cerca de 30% dos trabalhos no empreendimento já estão concluídos, e a empresa mantém sua expectativa de iniciar a operação das usinas gradualmente ao longo de 2022.
Com contratação 100% voltada ao mercado livre de energia, o complexo Tucano tem, hoje, 322,4 megawatts (MW) de capacidade instalada contratados junto a grandes clientes, em acordos de longo prazo. A companhia tem ainda 260 MW para desenvolver no empreendimento.
Já em relação ao projeto eólico Cajuína, no Rio Grande do Norte, a companhia espera que a licença de instalação seja concedida no quarto trimestre deste ano, para que as obras possam se iniciar no próximo ano.
Atualmente, a AES Brasil tem 382 MW contratados em Cajuína, em três acordos de longo prazo no mercado livre, sendo que dois deles foram assinados no segundo trimestre. Ainda nos últimos meses, a geradora incorporou um projeto vizinho à Cajuína, elevando a 1,2 gigawatt (GW) a capacidade total para desenvolvimento no empreendimento.
“Continuamos trabalhando em novos contratos para Cajuína”, afirmou Clarissa.
A companhia também acabou de adquirir um projeto solar para desenvolvimento no norte de Minas Gerais, com potencial para atingir 378 MW. “Esse ‘pipeline’ traz uma complementariedade importante para o portfólio, em termos de submercado. Hoje, ainda vemos o ‘pipeline’ eólico mais competitivo que o solar, porém é importante garantir acesso às oportunidades”, disse a presidente da companhia.
Na visão da executiva, é possível que o mercado enfrente uma sobreoferta de projetos renováveis nos próximos dois anos, em função da corrida de empreendedores para aproveitar a janela até o fim dos subsídios a essas fontes. “Nossa preocupação na AES é garantir contratos de longo prazo e acesso às máquinas também”.