A parcela de renda das famílias comprometida com pagamento de dívidas ficou em 30,5% do total do orçamento em julho, segundo a última edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada nesta quinta-feira.
Foi a maior proporção desde novembro de 2017 (30,6%), acima de junho deste ano (30,3%) e de julho de 2020 (30,3%) informou a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, para quem o avanço da inflação, e o consequente uso de meios de tomada de empréstimo como cartão de crédito para compor renda no orçamento, foram determinantes para o resultado.
“Temos aí uma parcela de comprometida de dívidas que só comprova esse cenário de inflação alta, que corrói o orçamento das famílias”, afirmou. Ela não descarta continuidade de avanço na parcela de renda comprometida com débitos, nos próximos meses.
Segundo a economista, tanto a parcela de renda mais alta comprometida com empréstimos quanto a maior fatia de famílias que se declararam endividadas na pesquisa (71,4%) são alerta para os indicadores de inadimplência dos próximos meses.
Pela ótica da pesquisa, os percentuais para esse perfil de endividado parecem sob controle. Mas, se o volume de dívidas prosseguir em trajetória ascendente, isso na prática poderia conduzir à elevação na quantidade de famílias sem condições de quitar seus compromissos no prazo.
Um dos aspectos que contribuem para essa possibilidade de continuidade no aumento de famílias endividadas é o cenário atual de preços, pontuou ela. "A inflação não está dando trégua" reconheceu ela. Em julho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou alta de 0,72% para o IPCA-15 de julho, prévia do IPCA, indicador oficial de inflação do governo — a maior taxa para o mês desde 2004 (0,93%).
Ela observou que a inflação conta, hoje, com vários fatores de pressão, como alta de commodities agropecuárias e metálicas, e melhora em demanda interna no país com avanço de vacinação contra covid-19, o que eleva preços também, lembrou ela. "A inflação tem peso muito grande. Ela 'tira' espaço maior de orçamento das famílias" resumiu.
Como o avanço de preços é um dos fatores principais a estimular maior acesso a crédito, e não dá sinais de que possa ter interrupção com trajetória de queda nos próximos meses, as famílias podem continuar a recorrer a crédito, para compor orçamento, alertou ela. "É provável que continuemos a ver nível elevado de endividamento", admitiu.