A bolsa brasileira abriu em alta acelerada, mas perdeu parte do fôlego no início desta tarde de quinta-feira. As ações da Petrobras seguem em destaque, em reação ao balanço trimestral melhor que o esperado. Porém, as perdas aceleradas nas ações da Vale encurtam o fôlego de alta da renda variável local, que digere também a sinalização do Banco Central (BC) de um cenário de juros mais restritivo.
Perto das 12h20, o Ibovespa 0,81%, para 122.789 pontos, após máxima em 123.541 pontos. O índice à vista ainda não foi negociado em baixa neste início de pregão.
Entre as ações, Vale caía 3,21% e figurando no ranking de maiores baixas, junto com CSN ON (-3,17%), com ambos os papéis refletindo o recuo nos preços do minério de ferro na China e em meio ao surgimento de casos de transmissão interna da variante delta do coronavírus no país, o que levou ao endurecimento de medidas de controle em várias cidades.
Na outra ponta, Petrobras tinha altas de 10,86% e de 9,17% nas ações ON e PN, liderando o ranking de maiores altas, em reação ao lucro líquido de R$ 42,85 bilhões entre abril e junho deste ano, superando as previsões.
Para a equipe de análise da Ativa Investimentos, o resultado financeiro da estatal petrolífera agradou por causa da geração de caixa e desalavancagem. “Diante da redução de dívidas e do anúncio de antecipação de US$ 6 bilhões em dividendos, a recepção do mercado aos resultados é positiva”, comenta, em relatório, citando também a evolução nos volumes de vendas e despesas operacionais menores.
Já o analista da Guide Investimentos Luís Sales observa que o resultado da Petrobras no período é fruto da política de redução do endividamento e da melhoria de alocação do capital da companhia. “Para os próximos resultados, os principais riscos são o valor do petróleo do tipo Brent e o risco político com a aproximação das eleições de 2022”, pondera.
De qualquer forma, o diretor financeiro (CIO) da TAG Investimentos, Dan Kawa, avalia que os fatores micro se sobrepõem às questões macroeconômicas, com o balanço da Petrobras ofuscando a reação da renda variável à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) ontem. “A surpresa da Petrobras foi bastante positiva e a bolsa tende a reagir mais a isso”, diz.
Para ele, ao menos no curto prazo o impacto do Copom na bolsa tende a ser pequeno. “A alta de 1 ponto percentual (pp) já era esperada, por mais que a sinalização tenha sido mais dura”, avalia o CIO da TAG, referindo-se à indicação de uma nova alta de mesma magnitude na próxima reunião do Copom, em setembro.
Já para o chefe de economia e estratégia do Bank of America (Bofa), David Beker, nem em um horizonte mais longo uma taxa Selic acima do nível neutro tende a incomodar. “O menor dos problemas no ano que vem é a taxa de juros”, afirma, citando outros fatores mais relevantes, como a disputa eleitoral no Brasil e o início da retirada de estímulos nos Estados Unidos, com a redução do programa de compra de ativos (‘tapering’).
Segundo o estrategista, a mensagem do Banco Central de que irá atuar de forma mais tempestiva para ancorar as expectativas de inflação em 2022, em particular, é algo positivo. Ainda assim, ele não descarta uma migração de recursos, com a renda variável tornando-se menos atraente. “A renda fixa fica sem dúvida mais atrativa e a perspectiva de fluxo [para a renda variável] piora”, pondera Beker, do BofA.
Na mesma linha, o economista-chefe do modalmais, Álvaro Bandeira, cita a “cultura rentista” no país e observa que o cenário de aumento da taxa de juros sempre incomoda a renda variável. Porém, ele avalia que o impacto de uma Selic acima do nível neutro não deve encurtar o fôlego de alta da bolsa. “A taxa de juros real ainda seguirá baixa”, diz.