05/08/2021 às 15h00min - Atualizada em 05/08/2021 às 15h00min

Banco do Brasil segue em busca de parceiros para BB DTVM, diz presidente da instituição

O presidente do Banco do Brasil (BB), Fausto de Andrade Ribeiro, afirmou que o plano de desinvestimentos do grupo continua o mesmo, ou seja, o que não for considerado “core” para a estratégia do banco pode ser vendido ou ter a entrada de um parceiro estratégico.

Ele afirmou, em teleconferência com jornalistas, que o plano de buscar um parceiro estratégico para a BB DTVM continua, já que o mercado de assets passa por um momento disruptivo, com surgimento de novas gestoras independentes. Ribeiro reforçou que ideia é encontrar um parceiro “robusto”, internacional, para complementar a oferta de produtos e serviços.

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Já sobre o BV, que é controlado em conjunto com a família Ermírio de Moraes, Ribeiro disse que o banco divulgou um resultado muito bom para o segundo trimestre e tem uma excelente governança. “Vamos esperar melhores oportunidades para conversar com nosso sócio”, comentou, lembrando que a instituição tentou realizar um IPO em abril, mas acabou desistindo em função da volatilidade do mercado.

O Valor publicou nesta quinta-feira (05) matéria com o CEO do BV, Gabriel Ferreira, onde ele aponta que o IPO continua sendo a principal opção no planejamento estratégico da instituição, mas que não há data definida e lembrou que as eleições presidenciais no próximo ano podem dificultar a janela de ofertas. "Estamos acompanhando o mercado, esperando os múltiplos das instituições financeiras voltarem para os patamares pré-pandemia, ter um ambiente mais favorável."

No mês passado surgiram rumores de que a PagSeguro poderia comprar o BV, mas na ocasião o banco e seus controladores negaram a notícia. Hoje, perguntando se a venda do BV seria uma opção, Ribeiro disse que sim. “Se surgirem eventuais compradores para o BV estamos dispostos a conversar, desde que seja interessante do ponto de vista financeiro. Se surgir uma nova janela para IPO, vamos voltar a estudar novamente.”

Ele reforçou que o BB está bem capitalizado e não precisa fazer a venda de ativos a qualquer preço, por isso vai esperar o momento certo para maximizar o valor desses ativos.

Sobre um eventual IPO de Elo, que é controlada em parceria com Caixa e Bradesco, Ribeiro disse que não pode comentar o assunto por questões regulatórias.

Banco de investimentos

Ribeiro afirmou que a perspectiva é muito boa para a unidade de banco de investimento no segundo trimestre, com muitas empresas buscando os mercados de capitais.

Ele disse que ainda é cedo pra avaliar com profundidade a parceria com o UBS na área de banco de investimento, mas que por enquanto o acordo tem se mostrado muito positivo, com o BB atuando mais na área de fusões e aquisições, que era uma linha que fazia muito pouco antes. “Isso abriu novos mercados para nós, o UBS é um parceiro muito forte.”

Ele ressaltou que o BB teve um resultado “fantástico” no primeiro semestre, com lucro recorde de R$ 10 bilhões, e está avançando nos seus três grandes eixos estruturais: proximidade com o cliente, ser digital na prática e buscar maior rentabilidade.

O vice-presidente de gestão financeira do BB, José Forni, afirmou que, em termos de lucro, o banco está olhando o segundo semestre de forma conservadora. A administração do banco foi questionada em teleconferência com analistas por que o ponto médio do novo guidance de lucro, de R$ 18,5 bilhões este ano, indica um resultado de R$ 8,5 bilhões no segundo semestre, já que no primeiro houve lucro de R$ 10 bilhões.

“Estamos olhando o segundo semestre de maneira conservadora”, disse Forni. Segundo ele, apesar da visão otimista para o desempenho da economia na segunda metade do ano, o banco espera que o desempenho de provisões para devedores duvidosos (PDD) fique mais próximo do normal no período anterior à pandemia. “O custo do crédito será superior ao do primeiro semestre. Não é pessimismo, mas é desafiador. Temos de olhar a realidade de normalização da carteira.”

Daniel Maria, diretor de relações com investidores do BB, afirmou que em 2019 o fluxo trimestral de PDD foi de R$ 2,7 bilhões em média. Em 2020, com a pandemia, isso subiu para R$ 5,5 bilhões. No primeiro semestre deste ano, caiu para R$ 2,6 bilhões. O ponto médio do guidance para o fechado deste ano é de R$ 14 bilhões. Como no primeiro semestre a PDD somou R$ 5,4 bilhões, isso sugere que ela seria de R$ 8,6 bilhões no segundo semestre, ou uma média de R$ 4,3 bilhões no terceiro e quarto trimestres. “É uma média menor do que o ano passado, mas maior do que o fluxo normalizado. É a nossa melhor proxy neste momento”, diz Maria.

Sobre a carteira com pequenas e médias empresas (PMEs), ele destacou que houve alta anual de 24,8%, a R$ 81,6 bilhões, e que no terceiro trimestre ela deve aumentar em R$ 6,5 bilhões somente com a liberação de créditos na nova fase do Pronampe.

Reestruturação das agências

Ribeiro disse que deu continuidade ao plano de restruturação das agências e do quadro de funcionários estabelecidos pelo seu antecessor, André Brandão, e que o fator positivo é que o cliente continua satisfeito com o atendimento. “Fizemos um modelo inteligente. Modelo de rede tradicional não é única forma de estar presente nos municípios, podemos conseguir isso de forma mais leve, barata.”

Essa reestruturação foi responsável pela saída de Brandão em maio, após impasse com o presidente da República, Jair Bolsonaro. A expectativa era fechar 361 unidades, sendo 112 agências bancárias, e a adesão de 5 mil funcionários em dois programas de demissão voluntária (PDV).

Pelos resultados divulgados na quarta-feira (04) pelo banco em relação ao segundo trimestre, o número de agências físicas fechou junho em 3.977, contra 4.367 um ano antes (queda de 8,9%). Já em relação aos quadros de funcionários, em dezembro de 2020 eram 91.673 pessoas, em junho deste ano chegou 85.518, uma redução de 6.155 saídas por diversos motivos.

De acordo com relatório do banco, 67,5% de 2.589 funcionários que deixaram de trabalhar na empresa entre abril e junho estão no âmbito do Programa de Adequação de Quadros (PAQ) e do Programa de Desligamento Extraordinário (PDE), iniciado na gestão de Brandão.

A jornalistas, o atual presidente do BB disse que a gestão de rede de dependências é dinâmica, requer acompanhamento e remodelagem periódica. “Quem determina isso é o cliente”, enfatizou. Ele destacou os correspondentes bancários como uma das formas positivas na mudança do modelo de atendimento das agências. Em um ano, esses profissionais aumentaram em quase 7 mil em um ano.

Ribeiro disse também que discussão sobre retorno dos funcionários aos escritórios virá para a pauta no decorrer do segundo semestre, e que esse retorno precisa ser feito com muito cuidado, respeitando diretrizes sanitárias, de forma gradual e espaçada, coordenada com a Febraban.

Reforma tributária

A decisão de capital do BB este ano será afetada pela questão da reforma tributária, disse Forni, durante a teleconferência.

“A gente está perseguindo a política [aprovada em 2021] de 40% de “payout” [porcentagem do lucro líquido distribuído aos acionistas do banco] e atentos às mudanças da reforma. Até agora, pagamos o JCP [juros sobre capital próprio] no limite de que pode ter benefício. Antecipação de dividendos ou recompra de ações não é uma estratégia contemplada a priori”, afirmou Forni.

Já o presidente do BB comentou que, “apesar do banco estar bem capitalizado”, ele considera que, na reforma, alguns pontos precisam ser melhor discutidos para não prejudicar as instituições financeiras, tirando o poder de alavancagem delas em um momento de retomada da atividade econômica.

“A reforma tributária é necessária para o país, mas alguns assuntos requerem um pouco mais de atenção. Talvez seria bom ter regra de transição mais suave para ‘impairment’ de estoque de crédito tributário”, afirmou Ribeiro.

Selic

Daniel Maria afirmou que o impacto positivo de alta da Selic na margem financeira deve ocorrer mais para o fim deste ano e em 2022. “É difícil precisar o trimestre, mas com certeza será mais em 2022”.

Forni lembrou que no começo do ano o mercado trabalhava com uma Selic chegando a 3,5% no fim deste ano, e agora essa previsão já está em 7%, podendo ficar até acima disso. “No segundo semestre continuaremos com essa trajetória de reprecificação do custo de funding, com a nossa margem sendo comprimida por isso, por conta da velocidade mais rápida [de ajuste da Selic].”

Ele explicou que esse foi o motivo que fez o BB revisar seu guidance para a variação da margem financeira este ano de alta de 2,5% a 6,5% para expansão menor, de 1,0% a 4,0%. No primeiro semestre, houve alta de 2,1%. “Isso é um intervalo mais justo sobre o que esperar para o ano. A reprecificação da nossa carteira está ocorrendo, mas existem forças de competição que atuam”.

No segundo trimestre, a margem financeira bruta do BB foi de R$ 14,384 bilhões, com queda de 1,2% ante o primeiro trimestre e alta de 0,6% na comparação com o segundo trimestre do ano passado. O grande motivo da queda na passagem do primeiro para o segundo trimestre foi justamente a despesa de captação, que cresceu 38,5%, a R$ 4,525 bilhões.

Inadimplência

Ana Paula Sousa, vice-presidente de gestão de riscos do BB, disse que a inadimplência deve subir um pouco no segundo semestre, acompanhando o crescimento da carteira de crédito, mas que o banco não deve experimentar a máxima histórica de inadimplência, que foi de 4,1%. “O pico da inadimplência deve ficar para 2022”, comentou.

Segundo Forni, a inadimplência do banco atingiu o menor patamar desde 2015. O índice ficou em 1,86% no segundo trimestre, ante 1,95% no primeiro trimestre e 2,84% em igual período de 2020.

Ana Paula destacou que a inadimplência está bastante comportada graças a uma concessão de crédito mais qualificada e prorrogações oferecidas aos clientes. De acordo com o BB, a queda no indicador de atrasos é resultado da gestão do crédito, das metodologias de risco e, “acima de tudo, da proximidade e suporte conferido aos clientes”. A executiva afirmou que, com essa inadimplência sob controle, há espaço para crescer a carteira em linhas de crédito mais arriscadas.

Já Forni comentou que as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) feitas pelo BB para lidar com a pandemia foram mais que suficientes e que, à medida que os casos de covid-19 diminuíram e a economia melhorou, no primeiro semestre deste ano a PDD ficou muito bem controlada.

Agora, com a expansão da carteira, deve haver uma “normalização no fluxo” de PDD. Esses gastos foram de R$ 5,4 bilhões no primeiro semestre e o BB revisou seu guidance para o ano para a faixa entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões, do intervalo anterior de R$ 14 bilhões a R$ 17 bilhões. “Prevemos uma despesa de PDD no segundo semestre um pouco superior ao primeiro, mas não é um agravamento de risco, é uma normalização. Assim, voltamos a ter centro do guidance [da nova projeção] como mais provável, com tendência de puxar para a parte menor do guidance.”

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