O percentual de brasileiros endividados bateu recorde em julho, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta quinta-feira pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O índice chegou a 71,4%, o maior da série histórica da pesquisa, iniciada em janeiro de 2010.
Em julho de 2020, 67,4% dos brasileiros estavam endividados e em junho de 2021, 69,7%. Para a CNC, o quadro reflete avanço inflacionário no período, que restringe orçamento das famílias e estimula novas tomadas de empréstimo para compor a renda.
A inadimplência também avançou na pesquisa. A parcela de endividados que declaram atraso ao cumprir pagamentos subiu de 25,1% em junho para 25,6% em julho, mas ainda está abaixo de julho de 2020 (26,3%). A parcela de inadimplentes que informaram não ter condição de quitar suas dívidas passou de 10,8% para 10,9% na primeira comparação. Em julho de 2020, essa fatia era de 12%.
Em nota, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, disse que a alta recente de preços tem diminuído o poder de compra dos brasileiros e deteriorado os orçamentos domésticos. “A renda dos consumidores também está afetada pelas fragilidades do mercado de trabalho formal e informal, com o auxílio emergencial deste ano sendo pago com um valor menor”, afirmou.
Chama atenção na pesquisa o impacto de endividamento entre os mais pobres. Entre as famílias que recebem até dez salários mínimos, o índice subiu de 70,7% em junho para 72,6% em julho e também bateu recorde. No mesmo mês do ano passado, havia ficado em 69%.
A proporção de endividados no cartão de crédito também renovou a máxima histórica, chegando a 82,7% do total de famílias com dívidas, informou a CNC. A entidade lembra que esse meio de pagamento é mais difundido por facilidades de uso e também o que oferece maior custo ao usuário, sobretudo quando se torna crédito rotativo (que é empréstimo pessoal de curtíssimo prazo, em que parte do saldo devedor é rolada para o mês seguinte ao do vencimento).
“O aumento dos juros em curso no país encarece as dívidas, principalmente na modalidade mais buscada pelos endividados hoje, que é o cartão de crédito”, afirmou a economista da CNC Izis Ferreira.
A especialista ressaltou ainda que, embora o crédito possa funcionar como ferramenta de recomposição da renda e potencializar o consumo, com mais de 71% das famílias endividadas, acende-se um alerta para o uso do crédito e o potencial de crescimento da inadimplência.