04/08/2021 às 18h00min - Atualizada em 04/08/2021 às 18h00min

Juros fecham perto da estabilidade, à espera de decisão do Copom

Com os investidores no aguardo pelo anúncio da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a taxa Selic, os juros futuros fecharam a quarta-feira (4) rondando os ajustes anteriores.

Segundo profissionais de mercado, a forte incorporação de prêmio de risco à curva a termo nos últimos dias devido a incertezas fiscais e a manutenção das expectativas para um Copom mais inclinado à retirada de estímulos monetários limitaram qualquer movimento mais significativo das taxas.

Finalizado o pregão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 cedeu de 6,36% no ajuste anterior para 6,35%; a do DI para janeiro de 2023 recuou de 7,90% para 7,885%; a do contrato para janeiro de 2025 anotou baixa de 8,80% para 8,79% e a do DI para janeiro de 2027 ficou estável, a 9,11%.

O volume de negócios foi mais expressivo no DI de curto prazo. Às 17h01, o contrato de DI mais negociado era o com vencimento em janeiro de 2022, com giro de 570 mil negócios — a média diária de contratos negociados para esse vértice em 2021 é de 557 mil.

“A forte precificação na ponta curta da curva e a relativa ausência de notícias sobre a questão fiscal, que fez preço nos últimos dias, limitou as altas dos juros. A curva já exibe níveis de taxa bem puxados”, explica o estrategista-chefe do Banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno .

No mercado de opções digitais de Copom, na B3, a chance de uma elevação de 1 ponto percentual é de 80,5% agora (de 79% ontem). Além disso, é atribuída probabilidade de 12,5% (ante 10,1% na véspera) a uma elevação mais agressiva, de 1,25 ponto, e de 8,5% (estável em relação à terça-feira) para um aperto de 0,75 ponto.

Pela precificação extraída da curva de juros, há probabilidade de 72% de alta de 1 ponto percentual do juro básico de 4,25% para 5,25% ao ano na reunião de hoje, atribuindo chance de 28% a um aperto ainda maior, de 1,25 ponto, caso apenas estas alternativas forem consideradas. Agentes financeiros também dão possibilidade majoritária a um aperto de mesma magnitude no encontro do colegiado em setembro.

A Ativa Investimentos, que projeta alta de 1 ponto da Selic, hoje, prevê que o BC deverá sinalizar aumento de mesma dose para a reunião seguinte, “evidentemente condicionado à conjuntura econômica”.

“Em sua comunicação, avaliamos que a principal alteração deverá estar associada à intenção sobre o ciclo, no qual o BC deverá indicar como apropriada a condução do juro para além do neutro, em função das expectativas de inflação”, diz Étore Sanchez, economista-chefe da corretora. “As projeções condicionais deverão mostrar outro salto, principalmente em 2021, passando para cerca de 6,5%.”

No exterior, o humor se provou negativo ao longo do dia, com a deterioração do sentimento de demanda por risco em meio à divulgação da Automatic Data Processing (ADP) de um número pior do que o esperado de criação de vagas de trabalho, em julho, no setor privado dos Estados Unidos. De outro lado, o índice de gerentes de compras (PMI) de serviços americano da IHS Markit veio em linha com as estimativas, enquanto o PMI do Instituto para Gestão da Oferta (ISM) do setor terciário superou as expectativas, avançando a nível recorde.

“No geral, há um pano de fundo cauteloso em relação à atividade econômica no momento, com a preocupação sobre a variante delta em diversos lugares no mundo, inclusive nos Estados Unidos. O dado da ADP sugere que não há tanta confiança assim dos empresários na recuperação da economia, mas o 'payroll' [relatório oficial do mercado de trabalho dos EUA] vai trazer um panorama mais detalhado”, aponta Rostagno, do Mizuho, prenunciando os números do relatório americano a ser divulgado na sexta (6).

Diante de temores acerca da perda de vigor da economia global, a taxa projetada pelo título do Tesouro dos EUA (Treasury) com vencimento em dez anos voltava a recuar abaixo da faixa de 1,2%, para 1,16%, de 1,175% no fechamento de ontem.

Uma fonte da volatilidade nos mercados ao longo da quarta foi o discurso do vice-presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, Richard Clarida, afirmando que os significativos estímulos fiscais implementados neste ano estão acelerando a recuperação da economia, de modo que “o início da normalização da política em 2023 seria [...] totalmente consistente com a nossa nova meta flexível de média de inflação”. Para ele, a inflação está “muito mais do que moderadamente acima da meta do Fed”.

Segundo o profissional de uma gestora, as falas repercutiram mal no mercado porque nem sequer fizeram menção ao timing do “tapering” (processo de redução de compra de ativos). “Ele já tratou de se referir diretamente a uma alta de juros, algo mais robusto do que simplesmente diminuir o ritmo de compra de ativos”, avalia.

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