No dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve optar por acelerar o ritmo de elevação da Selic, o mercado de câmbio chegou ao fim do pregão em leve queda, em um movimento que se sustentou durante a tarde, na esteira de dados do fluxo cambial de julho. Pela manhã, a moeda americana exibiu algum avanço contra o real após uma leitura mais dura pelos participantes do mercado sobre os rumos da política monetária nos Estados Unidos, o que se manteve no radar dos agentes nesta quarta-feira, em que o dólar fechou em queda de 0,15%, negociado a R$ 5,1838 no mercado à vista.
De acordo com dados divulgados à tarde pelo BC, o fluxo cambial registrou entrada líquida de US$ 831 milhões em julho. Considerando somente os números da semana passada, o fluxo cambial ficou positivo em US$ 1,616 bilhão, sendo que boa parte do resultado positivo se deveu à entrada de US$ 1,049 bilhão na conta financeira. Logo após a divulgação dos números, o dólar perdeu fôlego e passou a operar perto da estabilidade, com viés de queda.
Os agentes financeiros também aguardam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e há uma expectativa grande quanto a uma aceleração do ritmo de ajuste da Selic para 1 ponto percentual. Em relatório enviado a clientes, o economista-chefe para América Latina da Oxford Economics, Marcos Casarin, defendeu que o BC adote uma postura mais dura. A casa projeta que a Selic terminará o ciclo em 8% diante de uma inflação mais alta e que não tem mais componentes tão transitórios quanto o imaginado anteriormente pela autoridade monetária.
Além das pressões inflacionárias, Casarin aponta que “a taxa neutra também está subindo”. Ele estima que o juro neutro deve ser de 7% em 2022 e, “se o Banco Central quiser colocar a política monetária em território contracionista, precisará buscar uma taxa mais alta do que essa”. O economista aponta, adicionalmente, que o hiato do produto deve ficar positivo em 2022 “pela primeira vez em mais de sete anos”, o que também contribuiria para juros em 8% na visão da Oxford Economics.
A leve queda exibida pelo dólar durante a tarde contrastou com um movimento de alta durante boa parte da manhã, onde o catalisador foi um discurso do vice-presidente do Federal Reserve (Fed), Richard Clarida. O dirigente movimentou os ativos globais ao emitir declarações que foram interpretadas como mais duras pelos participantes do mercado.
Clarida apontou que o Fed pode ver um progresso substancial da economia até o fim deste ano e ressaltou que o núcleo de inflação acima de 3% é mais do que uma medida moderadamente acima da meta do banco central. Além disso, ele apontou para a possibilidade de o Fed elevar os juros até o começo de 2023, a depender da evolução da economia.