A bolsa brasileira intensificou o ritmo de queda e iniciou a tarde renovando os níveis mais baixos do dia, caindo ao redor de 2%, em meio aos riscos locais e às incertezas externas. O sinal negativo nas ações dos bancos e da Petrobras, em meio à divulgação de balanços, potencializa a pressão vendedora, com a renda variável doméstica exibindo perdas mais aceleradas que o observado em Nova York.
Às 14h30, o Ibovespa recuava 1,39%, aos 121.857 pontos, depois de cair até os 121.072 pontos, na mínima do dia até então. Na máxima, o índice à vista oscilou em alta, indo aos 123.587 pontos. Em Wall Street, os índices Dow Jones e S&P 500 recuavam 0,79% e 0,39%, piorando o desempenho após o vice-presidente do Federal Reserve, Richard Clarida, ventilar a possibilidade de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos no início de 2023. Operadores das mesas de renda variável afirmam que a notícia pesou no dólar, que renovou as máximas, respingando na bolsa.
Para o sócio e economista da BRA Investimentos, João Beck, o mercado financeiro está tentando decifrar a atuação dos bancos centrais na era pós-pandemia. Porém, ele observa que o cenário doméstico está mais claro, com o ciclo de alta da Selic, já em curso, devendo ser uns dos maiores do mundo. “Seremos um dos poucos países que vai registrar uma taxa de juros nos mesmos níveis pré-pandemia”, ressalta.
Segundo ele, esse cenário de juros básicos mais elevados tende a afetar parte dos ativos da renda variável, como as ações de empresas pagadoras de dividendos, de setores consolidados e receita recorrente. “São empresas bastante correlacionadas negativamente com a taxa de juros local’, explica Beck, da BRA, citando como exemplo os setores de saneamento, energia, concessões, shoppings centers.
Ao mesmo tempo, os ativos domésticos estão mais sensíveis ao cenário político. “O mercado continua ouvindo muito ruído, especialmente na parte fiscal”, observa o consultor de investimentos Renan Sujii. “O fato é que o mercado ainda não entendeu direito o que o governo pretende fazer em relação aos precatórios e ao Bolsa Família”, explica. Como resultado, o dólar acaba sendo usado como proteção de portfólio (hedge).
Além disso, operadores afirmam que o Ibovespa já vinha sendo penalizado pela queda nas ações dos bancos e da Petrobras. “A bolsa acabou sendo contaminada pelo dólar, pelo ‘gringo na venda’ e também pelo Bradesco”, comenta um operador de uma corretora local, referindo-se à concentração de ordens de venda por parte de instituições financeiras cujo perfil de clientes é estrangeiro.
Ainda no horário acima, o volume financeiro no Ibovespa somava quase R$ 15 bilhões, projetando R$ 35 bilhões até o fim do dia, sendo que cerca de 10% do giro concentrado nas ações do Bradesco. Os papéis ON e PN do banco recuavam 3,49% e 3,43%, respectivamente, figurando entre os destaques negativos, em reação aos resultados abaixo do esperado no segundo trimestre deste ano.
A equipe da XP Investimentos explica que o balanço foi impactado por um baixo desempenho do segmento de seguros, que, por sua vez, reduz a exposição do Bradesco à disrupção do setor bancário. Além disso, as despesas administrativas e operacionais vieram acima do previsto, mais que compensando o menor provisionamento no período.
“A qualidade geral do resultado piorou, à medida que os níveis de provisionamento caíram, apesar da possibilidade de um aumento nos níveis de inadimplência no futuro”, comentam os analistas do setor financeiro da XP, em relatório. O desempenho do Bradesco contamina o setor financeiro como um todo: Itaú Unibanco PN (-2,60%); Santander Units (-1,86%); Banco do Brasil ON (-1,91%); BB Seguridade ON (-1,60%), SulAmérica Units (-3,39%).
Ainda entre as ações de maior peso na composição do índice acionário (blue chips), Petrobras tinha quedas de 3,97% e -3,02% nas ações ON e PN, antes da divulgação do resultado referente ao segundo trimestre deste ano, depois do fechamento do pregão local. A estatal petrolífera estava com pouco mais de 6% do volume total negociado.
Vale ON, por sua vez, movimentava em torno de 7% do volume e oscilava em baixa de 0,18%, tentando pegar carona nos ganhos mais firmes das siderúrgicas. Usiminas PNA subia 3,67%, figurando no topo dos destaques positivos, seguida por CSN ON (+1,07%). Logo atrás, vinha Bradespar PN (+0,53%), acompanhando o desempenho da mineradora.