A CPI da Covid ouve nesta quarta-feira o coronel Marcelo Blanco, que foi assessor do Ministério da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello. Blanco foi citado em vários depoimentos à comissão como um dos intermediários na negociação entre a empresa Davati e o governo para a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
O coronel admitiu ter participado da negociação de vacinas com o governo e com o setor privado poucos dias após deixar a pasta. Blanco deixou o órgão em 19 de janeiro deste ano e, enquanto esteve no Ministério, trabalhou no Departamento de Logística, onde respondia ao então diretor, Roberto Dias.
Blanco informou que sua principal função era tratar da agenda do departamento com o setor privado, motivo pelo qual tinha muitos contatos. Um desses contatos o procurou em fevereiro e mencionou a oferta de 400 milhões de doses da AstraZeneca. Ele passou, então, a tratar diretamente com o policial militar Paulo Dominguetti, suposto representante da Davati. Blanco disse ter acreditado que Dominguetti tinha as vacinas e o teria orientado a procurar o Departamento de Logística.
Já fora do ministério, Blanco disse ter atuado junto com Dominguetti para vender os imunizantes, tanto para o governo quanto para o setor privado. A venda de vacinas ao setor privado é vetada no país.
O coronel também confirmou ter levado Dominguetti ao encontro de Roberto Dias, em um restaurante em Brasília, mas afirmou não ter avisado previamente ao então diretor de Logística da Saúde.
No encontro ocorrido em fevereiro deste ano em um restaurante, em Brasília, Dias teria omitido o fato de que uma norma interna do Ministério da Saúde que centralizava todas as negociações de vacinas na secretaria-executiva, então comandada por Élcio Franco.
Blanco disse que não conhecia a norma e que, por isso, levou Dominguetti ao encontro de Dias. O policial, segundo ele, vinha pedindo há algum tempo algum contato no Departamento de Logística.
Foi nesse jantar, segundo Dominguetti, que Dias teria pedido propina de US$ 1 por dose. Exonerado após a denúncia, Dias nega que tenha feito qualquer pedido.
Poucos dias antes do encontro Blanco registrou a abertura de uma empresa para a comercializações de medicamentos e insumos na área da saúde.
Na terça-feira, a CPI ouviu o reverendo Amilton de Paula, outro intermediário do negócio entre o governo e a Davati. Mesmo pressionado pelos senadores, ele omitiu durante todo o depoimento os nomes das autoridades que lhe abriram as portas do Ministério da Saúde. Foi o reverendo quem conseguiu agendar reuniões de Dominguetti com o alto escalão da pasta.