03/08/2021 às 19h00min - Atualizada em 03/08/2021 às 19h00min

Juros futuros fecham em leve alta, após tensão com riscos fiscal e político

O receio sobre a trajetória das contas públicas e o aumento da tensão entre Poderes chegaram a impulsionar os juros futuros nesta terça-feira (3), em avanços na parcela longa da curva que superaram os 30 pontos-base (0,3 ponto percentual) em relação ao ajuste anterior no pico de estresse. Mas agentes de mercado corrigiram a maior parte do movimento de pânico fiscal e político ao longo do dia, em linha com o que se viu no câmbio, e as taxas fecharam a sessão registrando apenas altas leves.

Finalizado o pregão regular, às 16h, os juros mostravam-se distantes das máximas do dia. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 avançou de 6,30% no ajuste anterior para 6,355%, depois de 6,39% na máxima; a do DI para janeiro de 2023 subiu de 7,85% para 7,905%, após 8,035% no pico; a do contrato para janeiro de 2025 variou de 8,77% para 8,81%, depois de 9,07% na máxima, e a do DI para janeiro de 2027 foi de 9,08% para 9,13%, após 9,41% no maior nível intradiário.

As atenções agora se voltam à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a taxa Selic, com participantes de mercado e economistas projetando que o colegiado entregará alta de 1 ponto percentual do juro básico, de 4,25% para 5,25%.

O aumento do risco fiscal dos últimos dias seguiu desfavorecendo os ativos financeiros locais, dada a possibilidade de uma expansão de até 100% no valor médio de R$ 192 pagos pelo Bolsa Família, como aventado hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, e a perspectiva de retirada dos precatórios do teto de gastos para permitir a acomodação do programa social dentro do limite de despesas públicas.

Pela manhã, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em webinar sobre precatórios promovido pelo “Poder360” e pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa que “não há capacidade de pagamento” das dívidas de precatórios, mas que não haverá calote da parte do governo. “Devo, não nego; pagarei assim que puder”, afirmou.

Segundo o ministro, os superprecatórios, de R$ 66 milhões ou mais, serão parcelados, mas causas de até 60 salários mínimos serão pagas integral e imediatamente. Na última sexta (30), Guedes classificou como “meteoro” o crescimento galopante das dívidas decorrentes de decisão judicial, de R$ 53 bilhões em 2021 para R$ 90 bilhões a serem pagos pela União no ano que vem.

Agentes de mercado pontuam também que o crescimento do atrito entre Poderes contribuiu, a princípio, para tumultuar os negócios, depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) instaurou um inquérito administrativo contra Bolsonaro, em razão de críticas e ameaças ao sistema eleitoral. O TSE remeteu a notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal.

“A questão política se juntou à grande interrogação do mercado, que é como resolver os precatórios e um Bolsa Família mais esticado”, disse Felipe Sichel, sócio e estrategista do Modalmais. “A história que estamos contando para os investidores ficou pior. Uma política fiscal menos eficiente implica piores preços de equilíbrio para nossos ativos”, avalia ele.

Segundo Leon Abdalla, analista de investimentos da gestora Rio Bravo, as taxas futuras podem “até se recuperar um pouco” dos fortes avanços recentes nas próximas sessões, mas devem continuar em um patamar mais elevado do que o visto duas semanas atrás.

“O mercado precisaria de alguma certeza para poder se acalmar um pouco mais, seja ela uma definição sobre a reforma tributária, uma sinalização robusta de obediência fiscal ao teto (principalmente no que tange aos precatórios) e uma nova proposta responsável do Bolsa Família”, diz Abdalla.

Para o profissional, houve um movimento de “manada”, o que explica a desaceleração da alta dos juros. “O mercado percebeu que acabou exagerando um pouco”, aponta.

Na reta final do dia, declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, também contribuíram para amenizar as perdas dos ativos locais. Ele defendeu a proposta de emenda constitucional (PEC) discutida no Executivo para parcelar precatórios e ressaltou que “não há disposição do Congresso em romper o teto de gastos”.

A um dia do Copom, investidores também continuaram com as apostas de elevação de 1 ponto percentual da taxa Selic na reunião de amanhã, de 4,25% para 5,25% ao ano. Segundo a precificação extraída da curva de juros, há 84% de chance de elevação dessa magnitude e 16% de alta ainda maior, de 1,25 ponto, se só estas alternativas forem consideradas. No mercado de opções digitais de Copom, é atribuída possibilidade de 79% de aperto de 1 ponto, probabilidade de 10% para ajuste de 1,25 ponto e de 6% para avanço de 0,75 ponto na taxa.

Com o mercado e os economistas já posicionados para um Copom mais duro no tom de combate à inflação, os riscos fiscais em alta deixam os agentes mais tensos sobre uma trajetória mais agressiva no aperto monetário, diz Sichel, do Modalmais. “A apreensão é maior para ver como o Copom vai reagir à piora dos fundamentos. Será que pode sinalizar um aumento maior, de 1,25 ponto, em setembro? Não é o que espero, mas é uma chance”, pontua.

Reparando uma dinâmica inflacionária negativa no Brasil, o TD Securities anunciou, hoje, a elevação de sua projeção de alta da Selic no próximo Copom, de 0,75 ponto para 1 ponto. A instituição prevê que a taxa básica fechará 2021 a 7,25% e que o BC ainda terá de promover ajuste residual de 0,25 ponto no ano que vem. “A curva de juros se encontra inclinada no Brasil, o que é justificável devido à dinâmica da inflação e aos riscos fiscais prospectivos”, avalia o banco.

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