O dólar comercial segue o movimento de forte avanço e bateu a marca de R$ 5,27 na máxima, conforme o crescimento dos riscos políticos e fiscais elevam a tensão dos agentes de mercado. Pouco antes de 11h15, a moeda americana aumentava 1,87%, cotada a R$ 5,2620, após ter batido o pico do dia a R$ 5,2750 no mercado à vista.
“O fator político segue tendo um peso forte nos nossos ativos e estamos bastante vulneráveis nesse sentido”, diz Italo Abucater, gerente de câmbio da Tullett Prebon. O movimento de aversão a risco visto no câmbio e nos juros futuros é motivado pela deterioração do quadro doméstico, com a instauração de inquérito administrativo pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o presidente Jair Bolsonaro, em razão de críticas e ameaças ao sistema eleitoral, no centro das atenções.
De acordo com Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital, sem dúvida se destaca a resposta do TSE às declarações de Bolsonaro como fonte de cautela nos mercados, mas a incerteza reforçada de investidores em relação à trajetória das contas públicas também impulsiona uma reação negativa dos ativos. “A possibilidade de um Bolsa Família de R$ 400 e o problema com os precatórios ainda estão estressando os mercados”, aponta.
Nesta terça-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou em webinar sobre precatórios promovido pelo Poder360 e pelo IDP que “não há capacidade de pagamento”, mas que não haverá calote da parte da União. Na sexta-feira passada, Guedes classificou como “meteoro” o salto de R$ 53 bilhões neste ano para R$ 90 bilhões neste ano do volume de precatórios que terá de ser pago pelo governo.
Neste contexto de reação do dólar, para Bergallo, o Banco Central não deve atuar, uma vez que não se vê distorção de liquidez, mas, sim, uma legítima reação defensiva do mercado, relacionada a fundamentos. “Atuar agora seria enxugar gelo”, afirma.
No mercado de juros futuros, as taxas operavam em disparada ao longo de toda a curva termo, refletindo a aversão a risco doméstica e perspectiva de uma postura mais conservadora do Comitê de Política Monetária (Copom).
O juro do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 avançava de 6,30% no ajuste anterior para 6,385%; a do DI para janeiro de 2023 disparava de 7,85% para 8,005%; a do contrato para janeiro de 2025 variava de 8,77% para 8,99% e a do DI para janeiro de 2027 tinha alta de 9,08% para 9,32%.